quinta-feira, fevereiro 22, 2024

Memórias do mosteiro de Orgens, Viseu

"
"Memórias do extinto Mosteiro de S. Francisco do Monte de Orgens (Viseu)", por Alexandre Alves *, in MILLENIUM - revista do Instituto Superior Politécnico de Viseu, nº 22, Abril de 2001.
Fotos originais
publicadas em 2001, no final do artigo que aqui se transcreve.
         
Novas fotos
de Duarte F, 21 Fev 2024. Da esquerda para a direita: entrada da cerca do mosteiro, igreja e "fonte do ouro".
  

Escrito de Alexandre Alves

Este mosteiro, situado num local aprazível e ridente, fica a pouca distância de Viseu.
É sobremaneira bela ali a natureza. Tem todos os encantos das regiões pitorescas do norte aliadas aos formosos panoramas dos países meridionais.
Para os viseenses, nas amenas tardes do estio ou do outono, este sítio é um dos seus passeios mais deleitosos e predilectos.

(Gabriel Lucena, in "Almanach de Vizeu Illustrado". Primeiro Anno. 1884. pp. 185-186)


1- FUNDAÇÃO E AUMENTOS DO MOSTEIRO

1.1. Escreve o erudito cronista viseense, Dr Manoel Botelho Ribeiro Pereira (1), nos seus Diálogos Moraes e Políticos, compostos entre 1630 e 1636, que em vida do bispo D. João Homem (2), pelos anos de 1410, se fundou hum quarto de légua da cidade o insigne Mosteiro de S. Francisco d'Orgens.

Foi seu fundador Fr. Pedro de Alemanços, natural da Galiza, religioso da Observância, a cuja Ordem foi o convento primeiramente dedicado.

Teve início numa ermida de S. Domingos, "sujeita à Sé e Cabido", o que originou grandes contendas com a clerezia, mais tarde sanadas por força de um Breve do Papa Martinho V, de 28 de Setembro de 1424. Dois anos depois, em 15 de Maio de 1426, D. Fr. Aimaro (ou Aymerico), bispo de Ceuta e capelão-mor do Infante D. Henrique, daria execução ao rescrito pontifício: demarcou e benzeu o cemitério, confirmando aos frades a posse da ermida e da cerca em redor, que era vinha, doada pelo Cabido (3).

De tal modo se houveram os Franciscanos, singularmente exemplares pela virtude e santidade, que em breve ganharam a simpatia da população de Viseu, principalmente a da fidalguia local, que de pronto escolhe a igreja do Mosteiro para panteão dos seus mortos. Assim o fizeram os Silvas de Orgens (posteriormente, em Castela, duques de Pastrana e príncipes de Melito), os Cunhas de Santar (mais tarde radicados em Espanha, onde atingiram a grandeza de Marqueses de Bedemar), os Cabrais de Belmonte (senhores de Azurara), os Freires de Andrade da Quinta de Crestelo (alcaides-mores de Viseu) e os Castelbrancos, que ali elegeram sepulturas, assinaladas com os respectivos brazões de armas familiares (4). O próprio Infante D. Henrique, duque de Viseu e senhor da Covilhã, viria a acarinhar com generosas dádivas os fradinhos, assim como, mais tarde, a Rainha D. Maria, segunda mulher de El-Rei D. Manuel. Também a célebre Infanta D. Maria, quando senhora de Viseu, não esqueceria os Religiosos de Orgens, cumulando-os de benesses, no tempo em que corriam as obras. Porém, o maior benfeitor do Mosteiro terá sido, sem dúvida, "El-Rei D. Afonso V de Portugal e Castela", o qual, não só lhe concedeu "a pedraria, quase toda de canto talhada, da cidade nova da Cava, de que se levantou a igreja, capela, quase todo o dormitório e uma bela hospedaria, como ainda deu, para o mesmo fim, muita esmola de dinheiro, além de 70.000 réis em que fora condenado Antão Gomes de Abreu, irmão do bispo D. João de Abreu".

Ainda não contente com liberalidades tamanhas, o Rei Africano, por carta passada em Évora, a 12 de Abril de 1453, não só mandou entregar aos frades a importante esmola mensal de 400 reais brancos, como também privilegiou os servidores da Casa, como o sapateiro do Convento e os carreteiros e almocreves que acarretavam as lenhas e iam buscar o pescado aos portos do litoral.

Igualmente, os prelados diocesanos, de uma maneira geral, se afeiçoaram aos Franciscanos, merecendo especial menção os seguintes:

D. João de Abreu ou D. João Gomes de Abreu, tão devoto do convento - "devotíssimo" - que os religiosos, reconhecidos, mandaram colocar as suas armas (5) no arco da capela-mor. Fez em 1476 a torre do relógio e, durante o seu pontificado, sempre os celeiros da Mitra estiveram abertos às necessidades da comunidade;

D. Fernão Gonçalves de Miranda: em 1505, por seu mandado, seu criado Pero Roriz entregou para o serviço da igreja "uma vestimenta comprida de chamalote com uma beca (?) de damasco branco";

D. Gonçalo Pinheiro: sendo guardião Fr. Francisco de Noé, ou de Buarcos, tomou a seu cargo mandar fazer algumas oficinas; e, em 1563, acabou o dormitório, obra em que despendeu 600 cruzados;

D. João Manuel: concedeu duas celas do Seminário da cidade para dois religiosos se curarem, com assistência de médicos, remédios, galinhas e tudo o mais necessário;

D. Ricardo Russell: saldava as dívidas e comprava buréis para hábitos.

Por fim, cumpre não esquecer, igualmente, a solicitude com que outros prelados, nomeadamente D. Jerónimo Soares e D. Júlio Francisco de Oliveira sempre acudiam às necessidades dos religiosos.

A pessoas leigas ficaram os fradinhos também devedores de importantes melhoramentos nos edifícios do Mosteiro. Por exemplo, D. Isabel de Amaral e Vasconcelos fez o Capítulo Novo, sendo-lhe dado por autoridade do Papa.

A Capela da Conceição ficou a dever-se à devoção de D. Branca Teixeira, mulher de Estácio de Castro, a qual, depois, foi freira em Monchique (Porto), "onde morreu de um raio com outras duas religiosas".

As "Claustras fez Fr. António de Buarcos com as esmolas que deixou um João Afonso, ferreiro de Fragosela, como consta do letreiro que está na quina das claustras, cuja virtude merece esta memória" (6).

1.2. Durante cerca de dois séculos, decorreu plácida a vida no Convento, dedicando-se os Franciscanos, na forma dos seus estatutos, às habituais pregações e confissões, restabelecendo a paz, concórdia e amizade entre os desavindos, enfim, ensinando os homens a bem viver e ajudando-os a morrer "com espirituais consolações d'alma...".

Nos finais do século XVI, surgiu e desenvolveu-se, paulatinamente, um movimento de opinião favorável à transferência do Convento de Orgens para Viseu, não porque o Convento demorasse longe, mas porque, enfim, na cidade sempre os frades poderiam exercitar e desenvolver , com maior comodidade, a sua acção benemerente. Para mais, os anos não pararam de rolar e a ruína instalara-se no Convento, degradando-o progressivamente e exigindo imediatas, profundas e dispendiosas obras de reparação. Além disso, o sítio da implantação, atreito a humidades, não seria o mais favorável à boa saúde dos seus moradores - "muito doentio e odioso à saúde deles...".

Razões maduramente ponderadas, o Padre Guardião Fr. Leonardo de Jesus dirige em 1603 um primeiro requerimento à Câmara, com vista à mudança do Convento para a cidade, atendendo-se aos motivos fortes acabados de expor acima.

Em 27 de Maio, depois de atentamente estudada a petição do guardião de Orgens, endereça a Câmara uma carta ao Ministro Provincial da província de Santo António, Fr. Diogo da Conceição, dizendo-lhe do gosto por todos experimentado com a resolução da mudança da Casa de S. Francisco de Orgens para a cidade, acrescentando os camaristas: "deixando as muitas razões que para isso há no que toca ao espiritual como ao temporal, parece que foi Deus servido que chegasse a mesma Casa a estado que ela por si requer edificar-se de novo. E havendo de ser assim, é tão grande o interesse e honra que a esta cidade redunda, que não diremos dar cumprimento a cousa tão acertada, mas ainda pedimos a V. Paternidade que com efeito queira pôr diligência nisto". E prosseguia a missiva: "e se for necessário da nossa parte fazer-se alguma cousa para que esta obra seja aprovada por Sua Majestade ou mais prelados supremos, estamos prestes para fazermos tudo o que cumprir".

Neste tempo, presidia à Câmara o Licenciado Simão Cardoso Cabral, Juiz de Fora, sendo vereadores António Cardoso de Cáceres e Gonçalo de Barros, e procurador Diogo Lagoa Ribeiro.

Estava dado o primeiro passo; porém, até que se concretizasse o sonho dos religiosos de Orgens e dos habitantes da cidade, mais de três décadas ainda haviam de passar. De qualquer modo, pode-se desde já adiantar que, contrariamente a uma determinação de D. Filipe II que o extinguira, o Convento de Orgens reerguer-se-ia das próprias ruínas e somente em 1834 fecharia, definitivamente, as portas, por força do célebre decreto de Maio do mesmo ano, inspirado pelo próprio rei D. Pedro II - o Libertador, e assinado por Joaquim António de Aguiar - O Mata Frades. Para que tamanha dilação se verificasse, muito terão contribuído os senhores Freires de Andrade, da Quinta do Crestelo, que tudo fizeram, empregando as maiores diligências, para impedir a mudança do Mosteiro para a cidade.

2 - ENQUANTO NÃO SE CONCRETIZA A MUDANÇA PARA VISEU...

2.1. Não esmoreceram os frades nos seus esforços, até que o caso chegou ao conhecimento do próprio monarca, D. Filipe II, por meio de uma carta dos Oficiais da Câmara e do bispo diocesano D. João Manuel. Apoiavam os signatários a "mudança da Casa de S. Francisco de Orgens, da Província de Santo António, que está junto à dita cidade, para mais perto dela, na forma em que o haviam requerido o Ministro Provincial e os mais religiosos assistentes em Orgens. Impetravam os frades ao monarca que "o houvesse assim por bem, pelo melhor cómodo com que ficavam para serem socorridos em suas necessidades e doenças, e o dito Mosteiro estar mui danificado, de maneira que em breve tempo poderá vir a cair..." (7).

Consultado sobre a matéria o Corregedor da Comarca que respondeu favoravelmente, D. Filipe, "por desejar fazer mercê, por esmola, aos ditos religiosos", houve por bem consentir na mudança da Casa do Mosteiro para junto da cidade, "para o sítio e lugar onde estava assentado pelos oficiais da Câmara", e se fizesse outro de novo, sem embargo de quaisquer leis ou Provisões que haja em contrário, com as declarações seguintes: - que os Religiosos não pediriam esmola para a fábrica do Mosteiro novo sem licença régia, e seriam obrigados a comprar o sítio onde se havia de fazer, "a prazimento dos donos e sem constrangimento seu"; - não ficariam frades nenhuns no Mosteiro velho, e a igreja dele, havendo de ficar em pé, seria entregue a um clérigo ou ermitão; as casas e horta poderiam os Religiosos vendê-las a quem lhes parecesse, de modo que não ficasse em Orgens um mosteiro e na cidade outro. E recomendava o rei: " havendo na dita igreja velha algumas capelas com missas e sufrágios, os frades as transfeririam para o novo mosteiro, nos mesmos sítios, fazendo tudo à sua custa, não querendo os herdeiros delas fazê-las".

A Provisão, assinada pelo punho do próprio monarca, foi escrita em Lisboa, em 30 de Agosto de 1613, por Francisco Ferreira (8).

Como desde 1603 até esta data se não gastara um real em obras de reparação do Mosteiro, sob o pretexto de que em breve se havia de mudar de Casa, o guardião Fr. Gabriel de Santa Clara, homem enérgico e de grande iniciativa, não podendo sofrer tamanha apatia, tratou de recrutar operários para trabalharem no Convento, nas mais urgentes tarefas de reparação, com as esmolas do Cabido da Sé e de alguns beneméritos particulares. Ele mesmo o diz numa memória manuscrita já desaparecida, mas que Viterbo ainda pôde ler no século XVIII:

"Consertei a capela do Espírito Santo que estava de todo acabada e refiz a capela-mor, a saber, a parede da banda da horta desde o alicerce e as outras paredes que mandei endireitar a picão e as reboquei todas; forrei a capela[maior] e dourei parte do retábulo por estar tudo acabado e a capela no chão; caiei a casa toda e a igreja, e consertei a torrinha e parede do dormitório, e consertei a enfermaria, e refiz o passadiço das secretas, que tudo estava a perigo de cair; forrei e reboquei o corredor que vai da sacristia para a portaria; fiz janelas no refeitório e um escritório na sacristia para os cálices e amitos". "Daqui se manifesta - comenta o operoso autor do Elucidário - que depois de 1612, em que tanto se trabalhou nesta mudança, se esfriou muito, tanto que os Padres de Orgens trataram de reparar o seu convento, concorrendo para este reparo o Reverendo Cabido e alguns particulares".

2.2. Sobre a data da Provisão de Filipe II decorreram oito anos, decerto gastos pelos frades em afastar escolhos do caminho e a preparar o terreno para a implantação do novo Mosteiro na cidade. Daí que o "esfriamento" da vontade dos frades, suspeitado por Viterbo, fosse apenas aparente; tanto assim que por patente de 6 de Junho de 1621, expedida de Espanha, do Convento de S. Francisco de Segóvia, Fr. Bernardino de Sena, Comissário Geral da Família Cismontana da Ordem de S. Francisco, dá "licença e faculdade" para os religiosos de S. Francisco do Monte poderem abandonar a sua Casa e mudá-la para outro sítio "mais propício à saúde dos religiosos e serviço de Deus Nosso Senhor".

Calando outras particularidades que muito dilatariam este nosso estudo, que se deseja breve, diremos que, finalmente, a 6 de Maio de 1635, tomavam os frades posse das casas e Quinta de Mançorim, do falecido chantre António de Almeida Abreu, posse que lhes foi dada pelo Corregedor da Comarca, por virtude de uma Provisão Régia de 29 de Março do mesmo ano. Antes, porém, haviam os religiosos pensado instalar-se em Santa Cristina (o que não fizeram por o lugar ser muito húmido) ou mais no alto, junto à Igreja de S. Martinho, fixando-se por último em S. Miguel do Feital, onde logo fizeram um hospício, instalando-se ali alguns padres desde 1633 até à Primavera de 1635. No referido dia 6 de Maio, O Provincial Fr. Manuel de Santa Catarina "trouxe em procissão o Santíssimo Sacramento do Convento de Orgens e mandou trazer as imagens da Conceição, Nosso Padre [S. Francisco] e Santo António em seus andores, com grande devoção e acompanhamento dos [moradores] da cidade e aldeias. Chegando a Mançorim, disse missa a que houve sermão (como também de tarde) acabada a qual se dirigiu o concurso ao novo sítio e lançou o Provincial a primeira pedra, com muita solenidade e devoção sua e de toda a Comunidade, a qual logo ficou no Recolhimento que por ordem sua traçou o Irmão Fr. Francisco de Braga (grande Architecto) nas mesmas casas do Chantre. Com isto ficaram os devotos mui contentes e mostraram a sua boa vontade nas muitas esmolas que mandaram" (9).

A partir de então, passou Orgens a simples oratório, com um Presidente in capite e oito religiosos, sujeitos aos guardiães do novo Mosteiro de Santo António de Mançorim igualmente responsáveis pela conservação e asseio do velho Mosteiro do Monte. Por exemplo, Fr. João da Natividade, eleito guardião de Viseu, em Fevereiro de 1636, deitou abaixo, no Convento de Orgens, "o dormitório e outras peças que estavam caindo, e reduziu tudo a oito celas, atendendo ao número de religiosos que naquele Oratório haviam de morar. Pôs em o Côro novas linhas de travejamento, por estar tudo muito podre a acabado, e mudou a Portaria antiga para o lugar em que estava antes desta última reforma".

Em 1672, iria a capela-mor ser objecto de obras de vulto que abrangeriam, também, o arco cruzeiro e os altares colaterais da igreja. Em 22 de Setembro daquele ano, por escritura pública celebrada nas casas das moradas de Manuel Lopes de Barros, Síndico dos Religiosos de Santo António de Viseu, o mestre de obras de pedraria Bartolomeu Alvares, morador em Ranhados, obrigou-se a fazer, por quarenta e cinco mil réis, "a obra do arco cruzeiro com os altares colaterais da igreja de S. Francisco de Orgens (...) mudando o dito arco mais para cima do que está o antigo (...) com seus degraus que têm os altares colaterais (...) sendo o arco como o da igreja do Convento de Santo António de Viseu". A obra seria dada pronta e acabada, na forma dos apontamentos, até o fim de Janeiro de 1673 (10).

Cinquenta e seis anos mais tarde, graças a uma avultada esmola do Cabido, Sede Vacante, voltou de novo a capela-mor a ser reparada.

3 - REEDIFICAÇÃO DOS EDIFÍCIOS DO MOSTEIRO DE ORGENS E POSTERIOR RESTAURAÇÃO DA GUARDIANIA 

Conta Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo que "No Capítulo Provincial de 30 de Setembro de 1741 se determinou, nemine discrepante, que se restaurasse, a fundamentis, o Convento de Orgens, pelas razões sabidas, aplicando logo o Irmão Ministro Fr. Luís da Anunciação, Pregador, Ex-Comissário do Maranhão e Ex-Definidor, Cento e cinquenta mil réis para princípio das obras, além de outras esmolas que também aplicou para o mesmo fim. E logo em 20 de junho de 1742, o Dr António Cardoso Pereira, Vigário Geral e Governador do Bispado (por o Senhor Bispo D. Júlio Francisco de Oliveira se achar ausente na Corte) aceitou com sumo gosto o lançar a Primeira Pedra naquele edifício, o que fez com a maior solenidade, assistência de Clérigos, Nobreza e Povo que concorreu em grande multidão e a quem se deu largamente de comer, à custa e generosidade do dito Senhor Governador que não quis gastasse o Convento cousa alguma naquele dia tão solene, a que assistiram os Religiosos deste Convento [de Santo António de Viseu]" (11).

Para a edificação do novo complexo monástico contribuiu, decisivamente, o Reverendo Manuel Ferreira, Abade de Povolide, que, sob determinadas condições, ofereceu 5.000 cruzados para as obras e 40.000 réis perpétuos para uma ordinária paga pela Misericórdia de Viseu, à qual entregara 960.000 réis, no modo como com ela havia ajustado. Por esta forma, em 6 de Abril de 1746, a Mesa da Definição desta Província Seráfica concedeu ao referido Abade o privilégio de ser não só padroeiro do Convento de Orgens e da sua capela-mor, mas também o de ter a sua sepultura na mesma capela. Para esta decisão do Abade de Povolide muito influiu o "Frade leigo, por nome Fr. José de Santa Clara, natural de Santa Comba Dão" (12).

"Todas as obras foram acabadas em 1749, tendo sido arquitecto e director delas, pessoalmente, durante oito anos, o Irmão Fr. Francisco de Jesus Maria, natural de Vila Real, que também o foi durante dez das obras no Colégio de Coimbra". Prossegue Aragão o seu relato, dizendo que "Os altos do Convento ficaram constando de três dormitórios com vinte celas, livraria, hospedaria e casa de fogo. O Coro tinha 28 cadeiras e havia varandas sobre o claustro em toda a volta".

Terminada a reconstrução, o Convento de Orgens ficou sendo uma das melhores casas de que dispunham os religiosos Antoninos da Província da Conceição de Portugal.

No interior, a igreja, suficientemente ampla, mede de comprimento cerca de 55 palmos e de largo 35 (13).

Tempos antes, "no Capítulo Provincial que se celebrou no Convento de Santo António de Viseu, em 15 de Maio de 1745, se determinou por Acta que o Oratório do Monte, que já estava reparado, fosse guardiania; e que as coisas e legados, com os papéis que lhe pertenciam, fossem entregues ao Guardião de Orgens, os quais, até agora, estavam no Arquivo do Convento da cidade; o que assim se praticou no dia 28 de Julho do mesmo ano, por ordem que assinou do próprio punho o Padre Provincial que ali fora eleito, Fr. João das Chagas, sendo Guardião da cidade Fr. Manuel de S. Paulo, e do Monte, Fr. Luís de S. José" (14).

4 - A EXTINÇÃO DO CONVENTO E ORDENS RELIGIOSAS EM PORTUGAL 

4.1. Após mais de quatro séculos de existência, ora plácida ora conturbada, o Mosteiro de S. Francisco do Monte de Orgens, da Província da Conceição, fechava, definitivamente, as portas, extinto por decreto do governo nacional. Para os frades não constituiu surpresa a extinção. Já se esperava a vinda de tempos difíceis, pelo menos desde a época do despotismo pombalino, mas, por certo, ninguém havia adivinhado quão rude e fulminante seria o golpe mortal desferido contra "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer casas de religiosos das ordens regulares", pelo Liberalismo triunfante. É verdade que, já nos Açores, o decreto da Regência, de 17 de Maio de 1832, suprimindo várias casas religiosas; e o decreto de D. Pedro, de 5 de Agosto do ano seguinte, proibindo a admissão de noviços e determinando o despedimento de todos os indivíduos que se encontravam em noviciado, nada de encorajante deixavam pressagiar.

Com efeito, imediatamente após a Convenção de Évora Monte, o decreto de 30 de Maio de 1834, da autoria do ministro da Justiça, Joaquim António de Aguiar, determina "a imediata extinção de todas as casas de religiosos (artº.1) e a incorporação dos seus bens na Fazenda Nacional (art.2), à excepção dos vasos sagrados e paramentos que seriam entregues aos Ordinários das dioceses (art.3)".

O que em seguida aconteceu sintetizou-o deste modo o P. Miguel de Oliveira, na História Eclesiástica de Portugal: "executou-se impiedosamente o decreto desde princípio de Junho. Obrigados a largar o hábito, muitos religiosos saíram cobertos com mantas e descalços; e os próprios doentes e paralíticos tiveram de deixar o leito das enfermarias. A promessa das pensões não passou de irrisão. Em 1842, Alexandre Herculano erguia a voz a favor dos desgraçados egressos, implorando pão para a metade dos nossos sábios, dos nossos homens virtuosos, dos nossos sacerdotes, que morriam de fome e de frio.

O Príncipe Félix Lichnowsky, que no mesmo ano visitou Portugal, fala (no seu livro Portugal - Recordações do ano de 1842) em "muitos milhares de frades arrojados repentinamente para o mundo com tão escassos meios de subsistência, que um egresso e um mendigo vieram a ser quase sinónimos".

O Estado apropriou-se não só das casas religiosas, mas do património pessoal com que os frades haviam entrado e de bens onerados com encargos pios de cujo cumprimento não curou. Mouzinho da Silveira entendia que se devia pagar com esses bens "nacionais" a dívida externa contraída para a guerra civil, mas prevaleceu a opinião de indemnizar com eles os heróis da causa liberal. A estes se conferiram os títulos admissíveis na compra em hasta pública; os duques de Palmela e da Terceira e o Marquês de Saldanha receberam, cada um, o valor de 100 contos de réis (cartas de lei de 25 de Abril de 1835). Mobiliário, alfaias, objectos preciosos, roupas, bibliotecas... quase tudo desapareceu criminosamente... Tudo isto porque, segundo o modo de ver de Joaquim António de Aguiar, "nada se lucrava com a existência das ordens religiosas, absolutamente inúteis (sic) à Religião e ao Estado, sendo a sua conservação incompatível com a civilização e luzes do século e com a organização política que convinha aos Povos..."

Mais equilibrado, mais desapaixonado nos seus juízos mostra ser o historiados A.H. de Oliveira Marques ao apreciar as consequências que para o País advieram da aplicação prática do decreto do "Mata Frades". Escreveu ele: A extinção das ordens religiosas não prejudicou grandemente o País, se nos esquecermos das perdas incalculáveis em objectos de arte, livros e manuscritos que resultaram do vandalismo destruidor e do saque que em certos casos acompanhou a extinção. Pelo contrário, trouxe até benefícios à agricultura e à propriedade(...) Deu igualmente à nação um quinhão apreciável da riqueza em propriedade fundiária e em edifícios de construção sólida, aplicados aos fins mais diversos. Socialmente, deparou com escassa resistência, sendo aplaudida ou aceite com indiferença pela maioria da população, incluindo o clero secular. Do ponto de vista religioso é que pode ter contribuído para um certo declínio da fé entre as classes mais baixas da população. E, claro está, ajudou a prepará-las para a aceitação de influências sucedâneas - a do cura, a do influente local, a do cacique político, mas também a do mestre-escola e a dos meios de informação laica.

4.2. Em execução do decreto de 30 de Maio de 1834, uma portaria da Prefeitura da Beira Alta, datada do dia 8 de Junho seguinte, e assinada pelo respectivo secretário geral João Baptista Gastão, nomeava o Dr Aristides Ribeiro Abranches Castelo Branco, juiz de Direito, servindo então de corregedor da comarca e correição de Viseu, para, segundo as instruções que acompanhavam a referida portaria, inventariar e tomar posse "de todos os paramentos, trastes, alfaias, móveis, semoventes, prédios rústicos e urbanos de vários conventos da área da Prefeitura, entre os quais o de Orgens da Ordem dos Franciscanos. Era do seguinte teor a referida portaria:

"Prefeitura da Beira Alta - Ilustríssimo Senhor. Sendo mister proceder quanto antes ao inventário e arrecadação dos bens dos extintos Conventos, conforme as instruções que juntas se remetem, confiando Sua Excelência o Senhor Prefeito desta Província do zelo, actividade e perícia de Vossa Senhoria, em que há-de desempenhar qualquer incumbência desta ordem com a melhor vontade e satisfação, encarrega-me o mesmo Excelentíssimo Senhor de lhe participar que deve ir tomar contas e pôr em arrematação os bens dos conventos extintos de S. Cristóvão, da Ordem de S. Bernardo, e os de S. Pedro do Sul, do Monte[de Orgens], da Fraga e de Viseu, das Ordens dos Franciscanos e Antoninos.

Deus guarde a V. Senhoria. Palácio da Prefeitura, em Viseu, 8 de Junho de 1834. Ilustríssimo Senhor Aristides Ribeiro Abranches Castelo Branco, corregedor interino da comarca de Viseu - João Baptista Gastão, secretário geral da Prefeitura".

Simultaneamente, eram remetidas ao mesmo magistrado as seguintes "Instruções para cumprimento do decreto de 30 de Maio de 1834":

Primeiro - Tomar posse, sem demora, para a Fazenda Pública, de todos os bens que por qualquer modo constar serem pertencentes a Conventos, Mosteiros, Colégios, Hospícios e Casas de Religiosos de todas as Ordens Regulares, seja qual for a sua denominação, pondo em prática todas as medidas de segurança que se tornarem necessárias para prevenir o extravio dos sobreditos bens.

Segundo - Exigir, debaixo de juramento, dos Religiosos, chefes superiores ou administradores de cada uma das ditas casas, além dos inventários dos respectivos bens que possa haver, as precisas declarações desses bens e das dívidas activas e passivas.

Terceiro - Proceder com audiência de um fiscal por parte da Fazenda (requerendo a nomeação deles nos lugares aonde o não houver) e formalizar inventários parciais de todos os objectos das mesmas casas, classificados pela maneira seguinte:

1. Vasos sagrados e paramentos.
2. Objectos preciosos não sagrados.
3. Objectos do refeitório, cozinha, enfermaria e mais mobílias do comum.
4. Livrarias e manuscritos.
5. Finalmente, casco, cerca, prédios rústicos e urbanos, foros, pensões, títulos de juros, dinheiro e outros quaisquer efeitos de valor.

Quarto - Avaliar todos os prédios rústicos e urbanos e seus rendimentos, bem como os domínios directos de quaisquer prazos e arrendar, precedendo os anúncios e formalidades do estilo, pelo tempo que decorre até ao fim do presente ano, todos aqueles desses prédios que se acham vagos.

Quinto - Se porém alguns prédios ficarem por arrendar, nomear depositários de reconhecida probidade que se constituirão responsáveis pela arrecadação e venda dos frutos e pela conservação dos mesmos prédios, vencendo pelo trabalho o que está determinado por lei.

Sexto - Quanto aos móveis pertencentes ao comum, vendê-los prontamente em hasta pública, com excepção dos vasos sagrados, paramentos, livraria e objectos preciosos não sagrados e tudo o que deverá ser conservado em seguro depósito, até ulterior determinação.

Sétimo - Formalizar relações circunstanciadas de todos os indivíduos moradores ou pertencentes às mesmas casas, com a devida classificação dos que estiverem ou não compreendidos nas excepções marcadas no artigo quarto do predito Decreto.

Tesouraria Pública, 4 de Junho de 1834. José da Silva Carvalho. Está conforme. João Baptista Gastão, Secretário Geral da Prefeitura.

O Dr Aristides de Abranches Castelo Branco, no seu despacho do "cumpra-se", de 10 de Junho, nomeou para fiscal nos conventos de S. Cristóvão de Lafões e de S. José de S. Pedro do Sul, ao Dr. Manuel Alberto Rodrigues de Sousa; e para o de Santo António da cidade de Viseu, de S. Francisco do Monte (Orgens) e Santo Cristo da Fraga, ao Dr Manuel Joaquim d'Almeida Silva Gaio (15) que mais tarde seria substituído, por legítimo impedimento, pelo Dr Luís Soares da Silveira.

4.3. Em 30 de Agosto de 1834 ficara concluído o inventário do Convento de Santo António de Viseu; e logo no dia seguinte, primeiro de Setembro, apresentava-se em Orgens o Dr Aristides Ribeiro Abranches Castelo Branco acompanhado do Fiscal da Fazenda, Dr Manuel Joaquim d'Almeida Silva Gaio, do Escrivão José Teófilo de Moura, do Meirinho da Correição, João António Mesquita, e mais elementos da comitiva. Na portaria, apenas os aguardava Fr. José de Santa Catarina, "ex-presidente do mesmo extinto Convento" e único religioso ainda assistente na Casa. Sem mais delongas, meteram-se mãos à obra, lavrando o Escrivão o competente Auto de Posse, cujos passos essenciais passamos a transcrever:

"Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1834, no dia 1 de Setembro do mesmo ano, no extinto Convento de S. Francisco do Monte, onde eu Escrivão vim com o Dr Aristides Ribeiro Abranches Castelo Branco e bem assim o Meirinho João António de Mesquita (...) e logo o dito Meirinho, entrando na igreja do mesmo, abriu e fechou as portas dela, e chegando ao altar-mor e a todos os outros colaterais, se apropriou dos móveis e ornamentos que ali estavam, mandou tocar o sino, passeou por toda a Igreja e fez tudo quanto lhe pareceu suficiente e necessário (...) e daí passou à Sacristia, onde abriu e fechou portas, caixões e armários, e se apropriou de todos os paramentos, trastes preciosos e alfaias que na mesma se achavam, passando depois ao dito extinto Convento, aonde também abriu e fechou portas, bem como de todo o resto do Convento, como era do Refeitório, Despensa do mesmo, Cozinha e despensa dela, Adega, Casa da Hospedaria e de todos os móveis que existiam dentro dele e de todos quanto lhe pertenciam, como era a Livraria; e daí passou para a Cerca, aonde cortou ramos das árvores, botou terra ao ar e pedras abaixo, e tornou-as a levantar, e fez tudo o mais que lhe pareceu suficiente e necessário para que todos os espectadores ficassem na inteligência de que de hoje em diante ficava a Igreja, Convento, móveis, semoventes e de raiz tudo incorporado na Fazenda Nacional, mandando pôr tudo em boa arrecadação e que daqui em diante não era pertença do dito extinto Convento, mas sim pertença do Estado..."

Ao outro dia, foi a vez de o Reverendo Fr. José de Santa Catarina ser solicitado a, na forma das instruções, "apresentar o Inventário da Casa, Livros de Contas e mais papéis por onde pudesse constar, claramente, o que havia nesta Casa":

Termo de declaração que faz o ex-Presidente do extinto Convento de S. Francisco do Monte, o Reverendo José de Santa Catarina

- : Aos dois dias do mês de Setembro do ano de 1834, neste extinto Convento de S. Francisco do Monte, onde eu Escrivão vim no impedimento do competente, com o Dr Aristides Ribeiro Abranches Castelo Branco, Juiz de Direito servindo interinamente de Corregedor nesta Comarca de Viseu, e sendo presente o referido Reverendo José de Santa Catarina, ex-Presidente do mesmo extinto Convento, como último superior dele, foi requerido pelo dito Ministro que na forma das instruções apresentasse o Inventário da Casa, Livros de Contas e mais papéis por onde se pudesse constar, mais claramente, o que havia nesta Casa, ao que respondeu o referido Reverendo José de Santa Catarina que ele não tinha Inventário nem Livro algum, mais do que os que se achavam no Arquivo do Cartório, dentro da cela do Padre Guardião, sendo natural que este, ou alguns dos Religiosos que primeiro saíssem levassem o dito Inventário, pois que no referido Cartório não havia mais livros ou papéis alguns do que os que se achavam no dito Arquivo; e assinou esta sua declaração com ele Ministro, e eu José Teófilo de Moura que pelo competente o escrevi. a, a) Abranches; o Pe. Fr. José de Santa Catarina" (16).

Ainda nesse dia, Manuel Esteves da Costa, do lugar de Travassós de S. Martinho, assinava um termo de depósito "dos frutos pendentes da Cerca e Mata do Convento"; e a 4, José Gomes de Almeida, do lugar de Orgens, assinava idêntico termo de depósito "dos paramentos, trastes e alfaias".

Depois de Fr. José ter jurado aos Santos Evangelhos "dar à escrita todos os bens do Convento, na forma da Portaria de 8 de Junho de 1834", os dezassete louvados convocados - pedreiros, carpinteiros, fazendeiros, alfaiates, ferreiros, um latoeiro, um ourives (Manuel António de Amaral), entalhadores (entre os quais António de Sousa Melo), um serralheiro e um sineiro - estavam prontos para iniciar o Inventário (17).

INVENTÁRIO 

"O edifício da Igreja com tudo o que lhe pertence vale pelo valor que lhe deram os competentes louvados a quantia de 1.770.000 réis. E o edifício do Convento vale a quantia de 1.387.000.

IGREJA

- O altar-mor tem a imagem de S. Pedro de Alcântara, a de S. Francisco e um crucifixo e a sua cruz e a peanha... (Nada diz quanto ao valor).
- Tem 6 castiçais de pau, prateados, usados, avaliados todos em 600 réis.
- Quatro jarras com seus ramos de papelão prateados, avaliados em 100.
- Uma estante de missal, usada, avaliada em 70.
- Três sacras usadas, avaliadas em 100.
- Um leito do Menino Jesus, avaliado em 300.
- Dois castiçais pequenos, de estanho, avaliados em 80.
- Dois anjos na frente da Tribuna... (nada traz quanto ao valor).
- Uma banqueta rica que se compõe de 6 castiçais com sua cruz e um crucifixo, tudo lavrado, avaliado em 16.000.
- Quatro jarras pintadas de encarnado com seus ramos de papel, avaliado tudo em 600.
- Três mochos em bom uso, pintados de encarnado, avaliados em 240.
- Quatro ditos pintados de encarnado, triangulares, avaliados em 360.
- Seis castiçais pintados de preto, usados e torneados, avaliados em 160.
- Dois ditos mais pequenos, pintados de preto e torneados, avaliados em 80.
- Dois ditos encarnados, já velhos, avaliados em 20.
- Quatro varas de pálio pintadas de encarnado, avaliadas em 80.
- Uma mesa de castanho da "Cardência", avaliada em 100.
- Quatro alenternas com seus competentes paus que servem para acompanhar o Santíssimo, avaliadas em 800.

ALTAR DE SANTO ANTÓNIO

- Tem uma imagem deste santo.
- Quatro castiçais de pau preto, avaliados em 120.
- Duas Dirandelas de ferro, avaliadas em 120.
- Três sacras muito usadas, avaliadas em 100.
- Uma estante de missal avaliada em 20.

ALTAR DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

- Tem uma imagem desta Senhora e dois anjos na sua frente.
- Quatro castiçais de pau, prateados, avaliados em 120.
- Duas jarras de louça fina, avaliadas em 40.
- Três sacras usadas, avaliadas em 100.
- Uma estante de missal avaliada em 20.
- Duas Dirandelas de ferro, avaliadas em 120.

ALTAR DO SANTÍSSIMO

- Tem um retábulo fixo.
- Quatro castiçais, avaliados em 120.
- Três sacras usadas, avaliadas em 100.
- Uma estante de missal em 20.
- Duas jarras de louça fina, com seus ramos, tudo em 60.


ARCO CRUZEIRO

- Tem uma imagem do Senhor Alvorado - ao lado direito a de Nossa Senhora, e à esquerda a de S. João Evangelista.
- Tem mais a Igreja três alâmpadas de latão amarelo, a saber, uma grande e duas mais pequenas, a grande avaliada em 1.000 réis e as pequenas a 800 réis cada uma, que tudo soma 2.600.
- Uma caldeirinha de cobre, usada, digo (sic) de latão amarelo, avaliada em 300.
- Outra dita mais pequena, de estanho, avaliada em 100.
- Um vaso de estanho, em bom uso, avaliado em 200.
- Outro dito quebrado, avaliado em 120.
- Uma picheira de estanho, sem tampa, em 100.
- Dois pares de galhetas com seus competentes pratos, avaliado tudo em 280.
- Um prato e uma galheta sem tampa, avaliados em 70.
- Duas campainhas pequenas, ambas em 120.
- Quatro confessionários com "raros" de lata, avaliados todos em 480.
- Dois ditos com raros de pau, avaliados em 160.
- Dois bancos de assento de pinho, grandes, avaliados ambos em 160.
- Outro dito, velho, avaliado em 40.
- Uma escada em mau uso, avaliada em 80.
- Uma caçoila prateada, avaliada em 1.200.

CORO

- Uma estante grande, de castanho, com suas gavetas, avaliada em 2.000.
- Um lampião grande de lata, avaliado em 120.
- Um dito pequeno em 50.
- Um Psaltério, dois Antifonários, um Breviário, outro Antifonário e mais três Livros de Coro, avaliado tudo em 10.000.
- Um Santo Cristo, grande, e duas imagens pequenas.
- Um órgão volante, avaliado em 40.000.
À saída do Coro, há um Oratório com a imagem da Senhora das Dores; e ao cimo das escadas do Refeitório há outro com a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

CLAUSTRO

Há nele uma pequena capela do Capítulo com um altar e um painel fixo, cuja Capela dizem pertencer a António d'Albuquerque do Amaral Cardoso, da cidade de Viseu.
- Tem mais dois castiçais de pau, prateados e usados, avaliados em 60.
- Três sacras muito arruinadas, avaliadas em 40.
- Uma alenterna, digo (sic) um lampião de lata com quatro vidros, avaliada em 240 réis.
Há outra Capela com altar e nele a imagem de Nossa Senhora e dizem pertencer a dita Capela à Casa de Santo Estêvão.
- Oito painéis muito antigos, avaliados todos em 1.800 réis.
À entrada do Claustro, há um S. Francisco das Chagas em um nicho.
À entrada da Portaria, um Oratório com o senhor da Cruz às Costas, e ao seu lado dois serafins, avaliado cada um a 1.600 réis e ambos somam 3.200 réis.
- Quatro castiçais torneados, pintados de azul e branco, avaliados em 240.
Há da parte de fora da Portaria, em um nicho, uma imagem de S. Francisco.
Ao Cimo da Calçada deste Convento há um arco com um nicho e nele a imagem do dito Santo.
No frontispício da Igreja há dois nichos, um com a imagem de S. Francisco de Paula (sic) e o outro com a de S. Domingos.

SACRISTIA

- Um Pontifical de damasco branco com galões de seda amarela e forrado de brim, avaliado em 13.000 réis.
- Uma vestimenta de damasco encarnado com galões de seda amarela, avaliada em 5000.
- Duas vestimentas encarnadas, de Nobreza, com galões de cor amarela, avaliadas em 2.000.
- Duas vestimentas de damasco branco com galões de seda amarela, avaliadas em 3.000.
- Uma dita de damasco roxo, com galões de seda amarela, avaliada em 15.000 réis.
- Uma dita de lã roxa, com galões de seda amarela, avaliada em 1.500 réis.
- Quatro ditas de lã branca, com galões de seda amarela, avaliadas em 6.000 réis.
- Duas vestimentas pretas de melania de lã, ambas em 4.000 réis.
- Duas ditas de damasco de lã encarnada com galões de seda amarela, avaliadas ambas em 5.000.
- Duas ditas de damasco de lã verde com galões de seda amarela, avaliadas ambas em 3.600.
- Um pano de púlpito de damasco de seda branco com galões de seda amarela, avaliado em 5.000.
- Uma capa de asperges de damasco encarnado, com galões de seda amarela, avaliada em 4.000.
- Uma dita de damasco branco, com galões de seda amarela, avaliada em 3.200.
- Uma dita de damasco roxo, com galões de seda amarela, avaliada em 3.000.
- Uma dita de lã preta, com galões de seda amarela, avaliada em 1.200.
- Um véu de ombros de setim branco forrado de tafetá com espiguilha falsa, em 1.600.
- Duas mangas de cruz de procissão, de damasco, uma branca e outra roxa, com galões de seda amarela, ambas em 1.400 réis.
- Um pano que serve à adoração da cruz, de melania de seda branca com galões de seda amarela avaliado em 100.
- Três pavilhões de damasco, um branco, outro encarnado e outro roxo, com galões de seda amarela, avaliados todos em 4.000.
- Dois pavilhões pequenos, um de damasco de seda encarnado e outro de tafetá roxo, ambos em 1.200.
- Um pano de ofício de sepultura, com galões de seda, brancos, e uma cruz de linho, em 100.
- Oito pares de cortinas de damasco de seda encarnada, com galões de seda amarela e franja, avaliados todos em 22.000.
- Dezoito bolsas de corporais de todas as cores, de damasco de lã, com galões de seda amarela, avaliados todos em 1.500.
- Cinco ditas de várias cores, de damasco de seda com galões dourados, todos em 700.
- Quinze véus de cálice de todas as cores, de tafetá, em 800.
- Cinco panos de cetim, de riscas de cores que serviam para forrar as paredes da capela-mor, avaliados todos em 13.000.
- Treze alvas de pano de linho, entrando uma de paninho, todas em 13.000.
- Seis sobrepelizes de linho, todas em 1.200.
- Duas cotas de pano de linho, ambas em 600.
- Uma sobrepeliz guarnecida, em 150.
- Sete toalhas de paninho guarnecidas de cassa, todas em 1.500.
- Sete ditas de linho guarnecido, e todas em 1.100.
- Nove ditas de linho e duas guarnecidas de franja, em bom uso, todas em 1.500 réis.
- Treze amitos de pano de linho, em 260 réis todas.
- Seis toalhas de lavatório, de pano de linho, todas em 800.
- Doze "manusterges" de pano de linho, todas em 200.
- Uma toalha guarnecida, de pano de linho e a guarnição de renda e já usada, em 60.
- Nove corporais de pano de linho e guarnecidos de renda, avaliados em 900.
- Sete manusterges de pano de linho, todos em 70 réis.
- Quarenta e sete sanguínios de pano de linho, todos em 160.
- Mais vinte e um sanguínios, em 50.
- Quatro amitos de pano de linho, todos em 80.
- Uma umbela de seda de ramos forrada em tafetá, em 500.
- Dois "sedarios"
- Um pano da porta da Sacristia, de pano verde bordado a retalho, em 1.200.
- Quatro vasos de louça da Índia, brancos, com uns ramos de ouro, todos em 1.300.
- Um dossel de damasco de ouro com alguns galões de ouro, avaliado em 1.440.
- Sete vasos de flores de louça fina, dois grandes e cinco pequenos, todos em 360.
- Um pavilhão de damasco de lã branca com galões de seda amarela, em 400.
- Dois tapetes muito velhos, ambos em 300.
- Um pavilhão de damasco branco, com galões amarelos, em 120.
- Seis toalhas de altar, de pano de linho, avaliadas em 120.
- Um frontal de damasco de lã encarnada, com galões amarelos, em 600.
- Outro dito de damasco de lã branco com galões de seda amarela, em 600.
- Outro dito de damasco de seda branco, com galões de seda amarela, em 1.200.
- Outro dito de damasco de seda encarnado com galões de seda amarela, em 1.200.
- Outro dito de seda verde com seus ramos e com galões de seda encarnada, em 1.200.
- Outro dito de damasco de lã preta e galões amarelos de seda, em 600.
- Outro dito de damasco de seda roxo, com galões de seda amarela, em 800.
- Um pontifical de belbute preto com galões entrefinos, forrados de brim, em 24.000 réis.
- Uma capa de asperges de belbute preto com galões entrefinos e forrados de brim em 9.600.
- Um pontifical de damasco de seda encarnado com galão de seda amarela, forrado de brim, em 25.000.
- Três vestimentas de seda branca com ramos de cor e galões de seda amarela forrados de tafetá encarnado, todas em 18.000.
- Uma vestimenta de damasco branco com galões de seda amarela forrada de paninho, em 7.000.
- Uma vestimenta de damasco encarnado de seda com galões entrefinos forrada de brim, em 7.000.
- Uma vestimenta de veludo encarnado com galões de seda amarela, forrada de brim em 10.000.
- Uma vestimenta de lhama roxa com galões finos forrada de tafetá roxo em 20.000.
- Uma vestimenta de damasco de seda roxo com galões de seda amarela forrada de paninho amarelo, em 5.000.
- Duas vestimentas de damasco encarnado em galões de seda amarela, avaliadas em 6.000.
- Um pálio de seda branca com galões de seda encarnada e franja, forrado de tafetá encarnado, em 16.000.
- Uma vestimenta de damasco de lã branca com galões de seda amarela forrada de paninho, em 2.000.
- Uma vestimenta de damasco de lã encarnada com galões de seda amarela forrada de paninho amarelo, em 2.400.
- Uma vestimenta de damasco de lã verde com galões de seda amarela forrada de olandilha, em 1.600.
- Uma vestimenta de melania preta com galões de seda amarela forrada de olandilha em 2.000.
- Um véu de ombros de damasco de seda encarnada com galões de seda amarela, forrado de brim branco, em 2.400.
- Um véu de ombros de damasco de ouro, com renda fina, forrado de tafetá branco, em 12.000.
- Um manto de seda, amarelo, com renda de prata, forrado de tafetá amarelo, em 1.200.
- Um manto de seda encarnada com galão entrefino forrado de tafetá branco, em 600.
- Um dito de seda azul claro com espiguilha falsa, em 400.
- Um pano de estante de seda amarela, em 240.
- Dez bolsas de corporais de diferentes cores, todas em 1.400.
- Um coxim de damasco encarnado com galões entrefinos, em 800.
- Um frontal de belbute preto com galões entrefinos, em 6.000.
- Um dito de seda branca com galões entrefinos e ramos de cor, em 3.600.
- Outro dito de veludo encarnado com galões de retrós amarelos, em 8.000 réis.
- Dois pares de cortinas de damasco, encarnadas, com galões amarelos, ambas em 4.000.
- Seis pares de cortinas de seda e algodão de riscas com duas sanefas, todas em 5.000.
- Umas cortinas da mesma seda, em 1.000.
- Uma sanefa de seda roxa com galões amarelos, em 240.
- Um pano da mesma seda de cobrir a capela-mor, em 1.500.
- Trinta e dois corporais, todos em 3.000.
- Três bolsas de corporais, em 300.
- Cinquenta e quatro sanguínios de pano de linho, avaliados em 110.
- Dezoito véus de cálice, todos em 1.800.
- Três panos de estante de missal, de seda de cores, em 240.
- Cinco bolsas de cobrir as cruzes, em 400.
- Três panos de estante, de seda de cores, em 150.
- Mais dois ditos, em 100.
- Quatro missais usados, avaliados cada um a 240, e todos 960.
- Há na Sacristia um crucifixo e duas imagens, uma de Nossa Senhora e outra de S. João Evangelista.
- Tem caixões fixos e seis painéis também fixos.
- Tem mais dois castiçais de pau pintados de azul, avaliados em 120.
- Três pares de cortinas de seda e algodão, avaliadas em 300.
- Três véus de cálice, em 300.
- Uma cruz de procissão com um crucifixo, cuja cruz é de pau-preto e torneada, avaliada em 960.
- Três sacras com suas lâminas douradas e com os vidros quebrados, todos em 3.000 réis.
- Uma custódia de prata que pesa 2 marcos e 6 onças que tudo faz a soma, pela Lei, de 37.800 réis.
- Um cálice de prata e que pesa 2 marcos e 22 oitavas que igualmente faz a soma, pela lei, de 13.125.

HOSPEDARIA

- Dezasseis cobertores de pano de casa, avaliados em 1.280.
- Quatro ditos de papa, avaliados cada um a 100 réis, e todos quatro em 400 réis.
- Cinco ditos de "Raxa", em bom uso, avaliados cada um a 200, e todos em 1.000.
- Quatro colchas de chita ordinária, forradas, avaliada cada uma a 200 e todas em 800.
- Cinco lençóis de linho, muito usados, avaliados todos em 500.
- Dez travesseiros de pano de linho, usados, todos em 240.
- Um dito, muito velho, em 20.
- Dez fronhas de riscado, em bom uso, todas em 200.
- Dez túnicas velhas e algumas rotas, cada uma a 50, e todas a 500.
- Duas varas de pano de que se fazem as túnicas, cada vara a 60, e ambas 120.
- Uma ratoeira usada, avaliada em 120.
- Uma seringa, avaliada em 200.
- Um tinteiro e areeiro de louça, em 20.
- Uma enxó, em 50.
- Seis bancos pequenos, de assento, todos em 120.
- Três tamboretes de pau de castanho, todos em 150.
- Um tear de fazer cordões de alva, em 40.
- Um caixão velho, oleado de encarnado, com fechadura, em 600.
- Dois serviços de pau de pinho, em bom uso, em 100.
- Uma canastra fechada, em bom uso, em 20.
- Uma mesa muito velha, em 50.
- Seis enxergões usados, avaliados em 900.
- Duas mantas de "Raxa" (ou "Vaxa"?...), em 400 réis.
- Uma túnica em bom uso, em 600.
- Um alqueire de pau de pinho, em 100.

MÓVEIS DO COMUM

- Três cadeiras em bom uso, de pau de castanho, avaliadas em 300.
- Seis tamboretes velhos, de castanho, avaliados todos em 240.
- Dois bancos de assento, de pinho, usados e avaliados em 80.
- Uma mesa pequena de pinho, em bom uso, em 40.
- Oito bancos de encosto, de pau de castanho, oleados e em bom uso, avaliados cada um a 200, e todos 1.600.
- Dois lampiões de corredores, ambos em 200.
- Três tamboretes de pau de castanho, em bom uso, todos em 300.
- Uma mesa de pau de castanho, usada, em 60.
- Três tabuleiros pequenos, todos em 100.
- Dois leitos muito velhos, em 120 réis ambos.
- Três tábuas de pinho, em 100.
- Uma escada de mão, usada, em 120.
- Oito bancos e doze tábuas de quatro leitos, com sua competente cabeceira, avaliado tudo em 300.
- Dezasseis bancos e 24 tábuas de 8 leitos, avaliado tudo em 400.
- Dois candeeiros de latão amarelo, o melhor em 500 e o mais ordinário em 400, e ambos em 900.
- Dois tamboretes de castanho, em bom uso, em 200.
- Quatro ditos, muito usados e da mesma madeira, em 160.
- Uma imprensa do selo do Convento, em 120.
- Uma mesa da Portaria, em 40.
- Uma dita, de pau de caixa, em 80.
- Um alambique de cobre, em 4.800.
- Duas masseiras de pau de pinho, com tampa e em bom uso, ambas em 200.
- Duas peneiras, em 40.
- Uma mesa de castanho, em bom uso, em 120.
- Uma escada nova pertencente à Livraria, em 120.
- Uma "chicolateira" de cobre, em 100.
- Uma bacia da barba, de latão amarelo, em 100.
- Uma campainha, em 50 réis.
- Duas panelas vidradas, em 120.
- Um macho avaliado em 10.500 réis.
- Cem paus de Castanho que estão cortados na Mata, na Praça de Viseu, à porta de Joaquim José Bernardo, da mesma, em 31.060 réis.

ADEGA

- Um tonel de madeira de castanho, arcado de ferro, que levará 80 almudes, avaliado em 4.800.
- Outro dito, de madeira dita, arcado de pau, que levará 50 almudes, avaliado em 2.400.
- Outro dito, de madeira dita, arcado de pau, que levará 60 almudes, avaliado em 2.400.
- Uma vinagreira de madeira dita, arcada de pau, que levará 10 almudes, avaliada em 400.
- Um pipo de madeira de castanho, que levará 6 almudes, arcado de pau, em 300.
- Seis almudes de vinho, avaliado cada um a 80 réis, e tudo 480.
- Uma torneira de bronze, em 400 réis.

REFEITÓRIO

- Há no Refeitório um painel, avaliado em 10.000 réis.
- Umas cortinas pertencentes ao mesmo, com sua sanefa, em 200.
- Um candeeiro de latão amarelo, grande, em 300.
- Cinco tábuas de castanho, que servem de mesa, todas em 2.500.
- Sete facas, 6 garfos e 2 colheres de metal amarelo, tudo em 120.
- Uma toalha de Flandres mais pequena em 200.
- Três guardanapos de Flandres, em 120.
- Oito panos de ração, em 320.
- Mais dois ditos, em 100.
- Um alforge de estopa, muito usado, em 20.
- Três toalhas de linho, velhas, avaliadas em 150.
- Sete "Cerapilheiras" de cozinha, em 150.
- Três canecas pequenas, em 60.
- Quatro ditas, em 80.
- Um cântaro de louça de Coimbra, em 40.
- Três mesas velhas, todas em 150.

DESPENSA DO REFEITÓRIO

- Uma arca grande, de madeira de Caixa e tampa de pinho, avaliada em 300.
- Outra dita, de pinho, usada, em 300.
- Outra dita, de castanho, mais pequena e velha, em 200.
- Outra dita, de castanho, mais pequena e velha, em 120.
- Outra dita, de castanho, mais velha, em 60.
- Um caixão pequeno de madeira de castanho, em 60.
- Uma cantareira de pau de pinho, em 60.
- Umas balanças de pau com seus competentes pesos de pedra que fazem o número de quatro pesos, tudo em 300.
- Dois alqueires de centeio, avaliados cada um a 120, e ambos a 240.
- Oito alqueires de cevada, avaliados cada um em 100 réis, e todos em 800.

COZINHA

- Uma panela de ferro que levará 8 quartilhos, usada, avaliada em 400.
- Uma dita, de cobre, com seu testo do mesmo e duas asas de ferro que levará almude e meio, em 2.400.
- Uma frigideira de ferro com sua tampa, em 480.
- Uma tampa grande, em 200.
- Umas "Tanazes", em 120.
- Uma grelha de ferro, em 60.
- Um púcaro de cobre, de tirar água, que levará uma canada, em 200.
- Um tacho de latão amarelo, em 300.
- Um caneco arcado de ferro, em 160.
- Uma porta de folha de ferro, em 360.
- Um espeto com 3 ganchos, em 200.
- Um dito, mais pequeno, em 60.
- Uma pingadeira de ferro com duas asas, em 120.
- Uma sertã de cobre, em 200.
- Uns ganchos de pegar nas panelas, em 60.
- Quatro colheres de ferro, em 240.
- Duas espumadeiras de ferro, em 20.
- Um gancho de tirar carne, em 60.
- Uma rapadora grande e outra mais pequena, em 70.
- Uma almotolia de lata pequena, em 50.
- Um ferro de hóstias, em 1.200.
- Um ferro de sepultura e uma chave das campas, em 300.
- Um machado de partir carne, em 100.
- Uma balança romana de ferro, em 240.
- Um almofariz de metal amarelo com sua mão do mesmo, em 400.
- Um cântaro de medir azeite, de lata, em 180.
- Um funil de lata, em 60.
- Dois potes de lata, oleados, em 4.000.
- Uma torneira de bronze pertencente à cozinha, em 300.
- Duas pias de pedra que servem para azeite, ambas em 4.000.
- Duas arcas de pau de caixão, muito velhas, em 200.
- Uma bacia de pés, de latão amarelo, em 480.
- Três latas do petitório do azeite, em 900 réis todas.
- Uma sachola, em 50 réis.
- Quatro tabuleiros de conduzir a comida ao Refeitório, todos em 40.
- Um ralador de lata, em 20.
- Uma almotolia de lata, em 30.
- Um candeeiro da dita, em 30.
- Um fole, avaliado em 50.

TORRE

- Um relógio com a sua competente sineta, avaliado em 24.000 (18).
- Um sino grande, avaliado em 30.000.
- Uma sineta pertencente ao Refeitório, avaliada em 600.
- Outra dita, pertencente à Sacristia, em 1.000.
- Outra dita, pertencente à Portaria, em 6.800.
- Uma bandeira de ferro da Torre, em 300.

LIVRARIA

Contém a Livraria 812 volumes de várias obras, muito antigas, e algumas truncadas.

CARTÓRIO

- Achou-se no Arquivo do Cartório um "Livro de Legados", pagos alguns ao extinto Convento.
- Mais um caderno em letra gótica que se não pôde ler.
- Mais uma folha de "progaminho" com letra gótica que também se não pôde ler.
- Um maço com o número segundo que contém traslados e verbas de testamentos e outros mais papéis.
- Mais um caderno em letra gótica que também se não pôde ler.
- Um maço que contém sentenças e autos em número onze.
- Um Livro de Contas da Comunidade, corrente.
- Um maço com 20 títulos de escrituras e vários papéis em letra gótica que se não pôde ler, em nº 20.

CERCA

A Cerca com sua Mata pegada, murada, e à roda da mesma e do caminho ou estrada que vem para Viseu, com regalia de plantar e cortar castanheiros, ou carvalhos, e Capelas dentro da mesma Mata. Foi tudo avaliado em Um Conto trezentos e cinquenta e um mil e duzentos réis. (À margem: Lº. de Bens, fl. 12, nº 148).
E o seu rendimento anual, atendendo a produzir somente hortaliça, fruta (19), folhados e alguma lenha de esgalha, foi avaliado em Dezoito mil réis.
Foros, pensões, títulos de juros e dinheiro - nada.
Dívidas activas ou passivas - nada.
Bens que os Religiosos administram – nada (20).

DEPOIS DO INVENTÁRIO

1 - Após a exclaustração dos Religiosos, os edifícios do complexo Monástico de S. Francisco do Monte, da Ordem de S. Francisco, tiveram o destino seguinte:

Edifício e Cerca - O edifício foi pedido pela Câmara para um lazareto e a Cerca para recreio e comodidade dos doentes.
Portaria da Fazenda de 17.2.1836 e ofício do Prefeito da Beira Baixa (sic) de 19.6.835.
1ª Repartição. Nº 195 R. 291

- O Edifício foi indicado pelo Administrador Geral para Asilo de Mendicidade.
Portaria da Fazenda de 8 de Fevereiro de 1837.
2ª Repartição. Nº 82

- Igreja - Pedida pela Junta de Paróquia da Freguesia Ocidental de Viseu, para a Freguesia de Orgens.
Portaria da Fazenda de 8.2.1837.
2ª Repartição. Nº 80

- Edifício - A Junta Geral do Distrito pediu que se sobrestasse na venda deste Convento, para ser aplicado a um lazareto. Por Portaria da Fazenda de 13 de Novembro de 1839, se mandou consultar a Junta do Crédito Público.

- Igreja - Concedida pelas Cortes, somente a Igreja, para servir de Paróquia à Freguesia de Orgens.
Carta de Lei de 15 de Setembro de 1841.
(Livro 1º das Requisições, fl. 240 vº.)
(Inventário nº 447)

2 - O EDIFÍCIO E A CERCA

A respeito da sorte destes prédios, escreveu em 1876 o Cónego Francisco Manuel Correia, do Cabido da Sé de Viseu:

- "Pela extinção dos Conventos em Portugal em 1834, o edifício e cerca foram vendidos em Praça pelo Governo como bens da Fazenda Nacional, e o comprador António Rodrigues de Loureiro, por alcunha o Pepino, logo fez demolir o edifício quase todo e o demoliria todo se lhe não obstassem a isso, em razão de ir prejudicar o edifício da igreja que se queria para matriz da freguesia". (V. "Liberal", nº 7 de 27 de Maio de 1857; e nº 14, de 20 de Junho do dito ano) (21).

Mais pormenorizado no seu relato, o ilustre Arqueólogo e professor liceal, Dr. José Coelho, falecido em 7 de Abril de 1977, deste modo descreve o trágico fim do arrematante do Convento que, pelo seu feitio arrebatado e conflituoso, não devia gozar da simpatia dos seus conterrâneos:

- "António Rodrigues Loureiro, vulgo António Jerónimo - O Pepino, arrematou o Convento de Orgens (S. Francisco do Monte), extintas as ordens religiosas em 1834, mas teve sérias questões com o povo da freguesia de Orgens, pois demolindo o convento e a casa capitular, causou muitos danos à igreja que o povo queria conservada, pelo que esteve em risco de ser assassinado. Prudentemente fez uma escritura de composição com o povo, ficando a igreja conventual para matriz paroquial. Mas não fugiu ao fatal destino, pois foi traiçoeiramente assassinado (...) foi morto às Alminhas da Poça da Grila, que ainda hoje ali se vêem, diz-se, por uns samarreiros de Vila Verde..." (V. Portugal Antigo e Moderno) (22).

O mesmo Autor revela ainda o paradeiro, naquele tempo, de algumas colunas provenientes do desaparecido Claustro do Convento:

- "Em Vil de Moinhos, no quintal de Jerónimo Rosa, há 6 colunas provenientes do Convento de S. Francisco do Monte (Orgens), medindo de base, 0,20 e o fuste 0,85m." Pelo desenho que acompanha a notícia, as colunas eram da ordem toscana (23).

3 - O ÓRGÃO DA IGREJA

Conforme se determinava na alínea 6ª das "Instruções para cumprimento do decreto de 30 de Maio de 1834", os objectos da igreja deviam ser conservados "até ulterior deliberação".

Assim se praticou com o órgão volante existente no Coro, avaliado em 40.000 réis, que permaneceria no seu lugar até Janeiro de 1836, altura em que por uma Portaria do Ministério do Reino, 3ª Repartição, datada de 16 do referido mês e ano, é mandado entregar aquele instrumento à Santa Casa da Misericórdia de Mangualde, a fim de ser colocado na respectiva igreja. O diploma em causa é do seguinte teor:

- "PORTARIA. Ministério do Reino - 3ª Repartição. Il.mo. e Exmº Senhor. Sua Excelência o Ministro e Secretário de Estado desta Repartição me encarrega de participar a V.Exª, em resposta ao seu Ofício de 18 de Dezembro do ano passado, e a fim de o fazer constar ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Vila de Mangualde, que se expediram as convenientes ordens para ser entregue à disposição do sobredito Provedor o órgão do extinto Convento de S. Francisco de Orgens, a fim de ser colocado na Igreja daquele pio Estabelecimento. Deus guarde a V.Exª. Secretaria de Estado dos Negócios do Reino em 16 de Janeiro de 1836. Il.mº e Exmº Senhor Governador Civil de Viseu - José Balbino de Barbosa e Araújo - Está conforme. João Maria Soeiro, Secretário Interino (24).

ESTADO ACTUAL DA IGREJA E SACRISTIA

- A Igreja monástica, Imóvel de Interesse Público, é o único edifício que permanece mais ou menos intacto do desaparecido conjunto monástico. Do Refeitório, pouco resta; e do Claustro, para além dos perfis de alguns arcos de volta perfeita da ala do sul, integrados na espessura da parede norte do templo, nada mais ficou do que o lajeado quadrângulo do espaço central.

Descendo-se da progressiva povoação de Orgens, rumo a noroeste, a curtíssima distância dos últimos prédios de recente construção, depara-se com um cruzeiro de granito de fuste abalaustrado, a anteceder um amplo arco de vão levemente abatido, aberto num pouco espesso paramento caiado. Sobre o arco, alça-se um nicho entre pináculos, abrigando uma escultura de terracota policromada de S. Francisco de Assis (Séc. XVIII). Aqui principia, entre muros altos, a larga e fresca avenida de pavimento pétreo que, no final, balizado por um artístico cruzeiro datado de 1711, conduz a uma escadaria de onze degraus que leva ao pequeno adro que outrora serviu de cemitério dos povos mais cercanos. Noutros tempos, eram os muros da avenida rebocados a cal, tendo representadas, de um e outro lado, a espaços regulares, as catorze cruzes das estações da Via-Sacra.

No muro do Adro, defronte da fachada da igreja, a barroca "Fonte do Ouro", de molduras curvas e um nicho vazio, já há muito deixou de lançar, para a concha de gomos, a leve e fresquíssima água que matava a sede aos viandantes encalorados e exaustos pelas longas caminhadas estivais. Encaixa-se num formoso arcosólio quinhentista, de frontão angular, finas pilastras e ornatos delicadamente trabalhados, decerto proveniente do interior da antiga igreja conventual, de jazigo de família abastada e distinta da Beira, de linhagem vetusta e orgulhosa dos feitos heróicos dos seus avoengos. É, sem dúvida, um caso único da arte funerária existente não só na cidade de Viseu, como também nas terras da Diocese.

Defronte da agora silenciosa e ressequida "Fonte do Ouro", eleva-se o branco frontispício da igreja, voltado a poente. É mais um exemplar típico da arquitectura franciscana setecentista.. Entre pilastras de aparelho almofadado, terminadas por urnas com fogaréus de custoso labor, definem-se os três sectores da fachada: o amplo e profundo pórtico da entrada, de arco abatido e molduras lisas, a janela do Coro alto, ladeada por dois nichos, e o óculo de iluminação da nave. No remate, o frontão angular, formado por segmentos de frontões curvos e mistilíneos, termina, no ápice, na cruz cuidadosamente trabalhada. Abrigam-se nos nichos as imagens de terracota policromada dos patriarcas São Domingos e S. Francisco, a primeira, a recordar, certamente, o orago da primeira capelinha onde o Convento de início se fundou, nos alvores do século XV.

No interior da galilé, protegida por uma abóbada de tijolo, de aresta, rasga-se o vão de acesso à igreja, de molduras curvas, exibindo no alto, num medalhão relevado, a efígie do grande taumaturgo português Santo António. À direita de quem entra, num oratório envidraçado praticado na espessura da parede, as imagens de roca do Senhor dos Passos e da Senhora das Dores, ladeadas por dois anjos candelários de madeira policromada, afervoram a piedade dos fiéis. Um alto lambril de azulejos azuis e brancos, de fabrico recente, revestem totalmente as paredes da quadra que uma alta grade de ferro protege dos intrusos.

O interior do templo, de brancura imaculada, divide-se nos dois corpos habituais, nave e capela-mor, separados pelo arco do cruzeiro, estreito e alto; de molduras simples e bases e capitéis singelamente lavrados. Cobrem os corpos abóbadas de berço que na nave nascem de uma longa e estreita cornija.

Segundo informa o Cura da Sé, Revdº Manuel Lopes de Almeida, nas "Memórias Paroquiais" de 1758, medirá a capela-mor cerca de 15 palmos de comprido e outro tanto de largo; e o corpo da nave "coisa de 40 palmos, pouco mais ou menos, e de largo mais de vinte". Um pitoresco lambril de azulejos "de figura avulsa", proveniente, é mais certo, das olarias de Coimbra, cerca de 1745, percorre a toda a volta ambos os corpos da igreja. Curiosamente, o Professor americano Robert C. Smith, da Universidade da Pensilvânia, elegeu para motivo de uma página inteira da sua obra The Art of Portugal 1500 – 1800 (25) um aspecto dos painéis azulejares de S. Francisco de Orgens.

Na capela-mor, iluminada por quatro amplas janelas (duas de cada lado), logo prende a atenção o precioso retábulo "maneirista" de talha dourada e policromada (século XVII), uma das mais estimáveis obras de arte existentes na diocese de Viseu. Atribuído ao grande entalhador local Francisco Lopes de Matos (26), assenta num largo supedâneo de três degraus de granito, alcatifados. Compõe-se de um elevado camarim de três escalões, revestidos nas partes visíveis por talha de acanto, posteriormente acrescentada. Divide-se a formosa máquina em três corpos horizontais distintos: a base, o plano intermédio e o remate. Naturalmente, o ponto fulcral incide no camarim, onde a valiosa e lindíssima imagem de madeira policromada, almofadada e dourada de Nossa Senhora da Conceição (27), datável de inícios do reinado de D. João V, assenta os pés no globo terrestre, envolto em nuvens, por entre as quais espreitam, sorridentes, cabecinhas aladas de querubins, indiferentes à presença maligna da serpente tentadora. Aos lados, entre colunas coríntias de fuste espiralado e os terços decorados com relevos de frades franciscanos (que por todo o retábulo abundam), em nichos de volta redonda, figuram as grandes esculturas de madeira policromada de S. Francisco de Assis (do lado do Evangelho) e de S. Pedro de Alcântara (do lado da Epístola). Abaixo, aos lados do especioso sacrário prismático, com o vulto de Cristo a ressurgir do túmulo, irradiante de flamas, os magníficos painéis relevados, de talha policromada e dourada, representam o Milagre das Rosas, protagonizado pela Rainha Santa Isabel de Portugal, e Santa Clara de Assis, com a custódia elevada, assistida por uma sua companheira de convento. Acima dos nichos, outros relevos de talha, igualmente dourados e policromados, mostram, envoltos em suas vestes prelatícias, S. Bernardino de Sena e S. Boaventura. Entre os arcos do camarim e o frontão curvo do remate, uma cartela alada será a representação heráldica do Seráfico Poverello de Assis. Ao nível do supedâneo, ladeando o retábulo, dois grandes anjos candelários, policromados, são espécimes típicos da fase barroca de Setecentos.

No corpo da nave, a atenção é requerida, primacialmente, pelo trágico, pungente grupo do Calvário: Jesus Crucificado, entre Sua inconsolável Mãe e S. João Evengelista, de madeira policromada, recordando, pelo estilo, o das esculturas lígneas da Europa nórdica. Entre o Crucifixo e o fecho do arco, encaixa-se, numa cartela, o brasão de armas familiar dos Ferreiras, alusivo ao reverendo Manuel Ferreira, abade de Povolide e padroeiro da capela-mor.

Aos lados do arco triunfal, sobre um degrau de granito, assentam dois elegantes retábulos de talha, de igual desenho e proporções, riscados, sem dúvida, por um religioso, cujo nome não ficou registado (28). Com os relevos dourados e as superfícies lisas pintadas de branco, são formados, cada um, por um nicho de volta mistilínea, entre um par de colunas compósitas, e rematado por alto espaldar, finamente debruado de renda de talha, composto a partir de segmentos de frontões curvos, com jarras floridas nos acrotérios. No nicho do lado do Evangelho, coabitam as imagens dos Corações de Jesus e Maria; no do lado da Epístola, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima ocupa, actualmente, o lugar de Santo António com o Menino Jesus nos braços. Este grande Santo franciscano figura, agora, no altar vizinho, já no corpo da nave, no tempo dos frades destinado ao Santíssimo Sacramento. O desataviado retábulo, abrigado num arco de volta redonda, de molduras lisas de granito, marmoreadas, culmina numa espécie de "tondo" de talha dourada. Aos lados, duas imagens de madeira policromada, de Santa Ana (?) e da Senhora das Dores, ambas do século XVIII e sem grande nível artístico, acompanham a do Sublime Taumaturgo, Glória de Portugal, nascido em Lisboa. Acima do arco, um brasão heráldico de calcário, quinhentista, assinalaria, noutros tempos, o lugar da sepultura da família de Leonel de Queirós Castelo Branco (29).

Abaixo do arco do altar de Santo António, lançada de parede a parede, uma alta cancela de madeira exótica, de finas colunas torneadas, com dois confessionários nas extremidades, delimitaria, antigamente, as áreas da igreja destinadas aos homens e às mulheres.

O púlpito situa-se a meia altura da parede, do lado do Evangelho. A bacia, na forma de pirâmide invertida, é de molduras de granito escodadas; formam a caixa esguios balaústres torneados, de madeira exótica (brasileira?...), e o guarda-voz, de madeira entalhada, com sanefas, culmina numa grande águia dourada, de asas distendidas, poisada sobre um livro aberto, em cujos laudas se lê o seguinte passo do Antigo Testamento: FACIES AQUIL/LE SUPER/IPSORUM/EZEQH.1.

Finalmente, no Coro, protegido por sólida balaustrada de madeira, ao centro da qual se equilibra uma maquineta de colunas torças com a imagem de S. Francisco em êxtase, ainda persistem fortes estantes para os pesados livros do cantochão e se dispõem, ao longo das paredes, 16 cadeiras de madeira do antigo cadeiral dos frades.

Na Sacristia, de área reduzida, mas de grande interesse artístico, o mobiliário resume-se, especialmente, ao sólido paramenteiro de madeira, com embutidos e doze gavetões com puxadores de bronze, sobre que descansa um formoso oratório de talha dourada, com sanefas e cortinados e fundo vermelho dourado, onde se acomoda um Cristo Crucificado muito belo. Constitui o oratório o centro de um alto espaldar de madeira entalhada e dourada, servindo de moldura a seis painéis de pintura a óleo sobre madeira, representando, da esquerda para a direita: S. Domingos, a Decapitação dos Santos Mártires de Marrocos, S. Pedro de Alcântara, S. Boaventura, Santo António de Lisboa a afagar o Menino Jesus no colo da Virgem Maria e S. Francisco a receber os estigmas. O tecto é apainelado, repartido por 25 caixotões, na disposição de 5x5, de molduras douradas e florões na intercepção das molduras, ilustrando passos da vida e milagres de S. Francisco de Assis.

No Corredor Interior, paralelo ao corpo da igreja, existe, num nicho, uma imagem de terracota do Senhor Ecce Homo, saída das mãos hábeis de algum religioso da Casa; e, adiante, defronte da porta da Sacristia, uma escultura de madeira policromada mostra o Povorello, ajoelhado, no momento de receber as chagas.

Na Cerca, propriedade particular, encontra-se um interessante sarcófago simulado, quatrocentista, de granito, sob o qual a água verte para um pequeno tanque. No frontal, decorado com as emblemáticas Cinco Chagas de Cristo, figura, em caracteres góticos minúsculos, a legenda: DOMINE DEUS MEUS/IN TE SPERAVI, JESU.

ALGUNS FRADES ILUSTRES DO CONVENTO DE ORGENS

- Durante os 424 anos de existência do Convento de S. Francisco do Monte, muitos e ilustres religiosos ali professaram ou por algum tempo viveram, admiráveis pelo seu saber e virtudes.

Da maior parte, infelizmente, até os nomes se perderam; de outros, porém - muito poucos - ainda perdura a memória. São esses que relembramos aqui, perfunctoriamente:

FR. PEDRO DE ALEMANÇOS - Frade leigo, natural da cidade de Betanzos, na Galiza. Doutor em Leis.

Após ter fundado o Convento de Santo António da Castanheira, cerca de Vila Franca de Xira, de que foi prelado, veio fundar o de S. Francisco do Monte, em 1410. Daqui regressou à sua pátria, onde faleceu.

FR. RODRIGO DE NORONHA - Filho de D. Pedro de Menezes, 2º Marquês de Vila Real, foi sobrinho, capelão e confessor do rei D. Afonso V.

Professando na Ordem Seráfica dos Menores Observantes, era guardião do Convento de S. Francisco de Orgens quando foi nomeado D. Prior do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (1459) e Bispo de Lamego (1463).

"Por sua muita capacidade e prudência", fê-lo El-Rei regedor da casa da Suplicação e reitor, reformador e protector da Universidade, então sediada em Lisboa.

Em 1477, esteve nas Cortes de Montemor; e nesse mesmo ano, tendo acompanhado a Corte a Évora, ali faleceu.

FR. FRANCISCO DA MADRE DE DEUS - No século, Gaspar Barreiros. Natural de Viseu, filho de Maria de Barros, irmã do historiador João de Barros, e de Rui Barreiros de Seixas, foi cónego de Viseu e Évora.

"Foi a Roma visitar Sua santidade por mandado do Cardeal D. Henrique, último rei português".

Compôs muito boas obras, entre as quais se destaca Chorographia de alguns lugares que stam em hum caminho, que fez Gaspar Barreiros ó ano de MDXXXVI, começando na cidade de Badajoz em Castella té à de Milam em Itália...

"Depois se fez frade de S. Francisco no Convento de Orgens, onde faleceu e ficou sepultado em 1 de Abril de 1573".

FR. MARCOS DE LISBOA - "Sucedeu na guardiania de Orgens a Fr. Bartolomeu da Ínsua, cognominado o Grande Frade pela sua austeridade.

Perito nas línguas grega e hebraica, insigne na teologia escolástica e bom pregador, elaborou a Chronica da Ordem dos Frades Menores do Seráfico Padre S. Francisco, em 3 partes, as duas primeiras editadas no século XVI e a última em 1615.

No tempo de Filipe I, vagando a Mitra do Porto, elegeu-o o Rei para ela. Foi sagrado no Convento de S. Francisco do Porto, em 21 de Janeiro de 1582, e faleceu a 3 de Setembro de 1591.

Já havia recusado a dignidade episcopal em duas mitras ultramarinas e na de Miranda" (30).

FR. CRISTÓVÃO DE LISBOA - Assistia em Orgens, em Novembro de 1609. Em 20 desse mês, recebeu a visita de seu irmão, Manuel Serafim de Faria, cónego e chantre de Évora que por Viseu passava, rumo a Miranda do Douro. O famoso chantre eborense dirigia-se a Miranda para, em nome do Cabido daquela Sé alentejana, cumprimentar o prelado D. Diogo de Sousa, então provido na arquidiocese de Évora, vaga por morte do arcebispo D. Alexandre.

Fr. Cristóvão de Lisboa, "de seu nome completo Cristóvão Severim de Faria, nasceu em Lisboa a 25 de Julho de 1583, estudou Artes e Filosofia na Universidade de Évora e veio fazer votos no Convento de Santo António de Portalegre, em 1602, com o nome de Fr. Cristóvão de Lisboa.

Tendo seguido para o Maranhão, em 1624, como custódio daquela província, dedicou-se à missionação e ao estudo da natureza, o que lhe permitiu redigir uma História dos Animais e Árvores do Maranhão (Pub. pelo Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, com notas do Dr Jaime Walter; Lisboa, 1967). Veio mais tarde a ser eleito bispo de Angola, falecendo em 1652. (cf. Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana, Tomo I, Lisboa, 1937, pp. 582 – 583 (31).

O CONVENTO DE S. FRANCISCO DO MONTE, FONTE DE INSPIRAÇÃO DE POETAS ROMÂNTICOS

- Escreveu Gabriel Lucena a certa altura no seu artigo O Convento de S. Francisco d'Orgens, inserto no "Almanach de Viseu Illustrado. Primeiro Anno. 1884", pp. 185 - 186:

"O sítio [do Convento] é tão ameno, tão inspirador que não é raro os cultivadores da poesia terem ali deixado versos repassados da mais terna inspiração. Numa das paredes do convento vêem-se os seguintes versos cheios de suavidade e que são como que um protesto à extinção dos conventos:

Entre as ruinas do mosteiro annoso
Onde a piedade sua voz ergueu,
Inda respira o calor das crenças
Que a alma eleva suspirando ao céo.

Pobre jazigo de varões robustos,
Que aqui buscaram lenitivo à dor,
Crestou-te um sopro d'uma raça impura
Que mal pensara do teu santo amor.

Grave protesto das mentiras d'hoje
Licção pungente às gerações d'agora;
É mudo o templo! dormem nas campas
Os pobres monges que a virtude chora.

Mão desconhecida escreveu estes versos, mas quantos outros não existem naquele sítio, todos inspirados da mais terna melancolia e saudade?"

- No espólio do falecido Juiz Desembargador, Dr Manuel da Cunha Alvelos, grande investigador, bibliógrafo e saudoso Amigo, encontrei um dia este papel, escrito por sua mão:

"Em 1916 ou 1917, li na parede do átrio da Igreja de Orgens, antigo Convento Franciscano, uns versos que copiei, mas que me desapareceram.

Apenas recordo os seguintes:

"Outrora o viandante afadigado
A quem a noite colhe em seu roteiro,
Aqui tinha um abrigo;
E quanto coração alanceado,
Bater vinha às portas do Mosteiro,
Buscar um peito amigo!

Faltava o pão no lar ao desgraçado,
No lar onde a miséria se albergava,
Com seu atroz cortejo?
E o Monge em bem-fazer sempre empenhado,
Também da sua mesa ao pobre dava
O pão do seu sobejo".

DOCUMENTOS 

1. CARTA DA CÂMARA DE VISEU AO REVº P.e FR. DIOGO DA CONCEIÇÃO MINISTRO PROVINCIAL DA PROVÍNCIA DE SANTO ANTÓNIO (27-MAIO-1603)

- "Não sabemos que nova de mor gosto pudéramos ter para esta cidade, que vir o Padre Guardião Fr. Leonardo de Jesus, Guardião dessa Casa, com Fr. Brás da Madre de Deus a esta Câmara dar conta de como Vossa Paternidade estava resoluto, parecendo-nos bem e a toda esta Cidade, a mudar-se a Casa de S. Francisco de Orgens para junto dela. Deixando as muitas razões que para isso há, assim no que toca ao Espiritual como ao Temporal, parece que foi Deus servido que chegasse a mesma Casa a estado que ela por si requer edificar-se de novo. E havendo de ser assim, é tão grande o interesse e honra que a esta Cidade redunda, que não diremos dar cumprimento a cousa tão acertada, mas ainda pedimos a Vossa Paternidade que com efeito queira pôr diligência nisto. E se for necessário da nossa parte fazer-se alguma [diligência] para com S. Majestade ou mais Prelados Supremos, para que esta obra seja por eles aprovada: Estamos prestes para da nossa parte fazermos tudo o que cumprir. E para que o Padre veja o gosto que a todos nós é comum, mandamos o treslado dos termos e Autos que sobre isso são feitos. Nosso Senhor conserve a Vossa Paternidade muitos anos.

Escrita em Câmara por mim Jorge Tenreiro, Escrivão dela, em 27 de Maio de 603. E assinam os camaristas. (O selo é redondo do campo, de 6.400 réis. Tem por empresa uma torre mui alta e a cada um dos dois lados uma figura humana com as mãos levantadas e de joelhos, e na orla esta legenda = Suma fastigia rerum = aludindo a que ao Senado pertence tudo o que for da maior importância à conservação e aumento da Cidade)."

(Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Memórias e Apontamentos para a Chrónica do Convento de Santo António de Viseu. Ms. inédito.)

2. PROVISÃO DE SUA MAJESTADE PARA SE MUDAR O CONVENTO DE S. FRANCISCO DE ORGENS PARA JUNTO DA CIDADE DE VISEU (30 -AGOSTO - 1613)

-"Eu El Rei faço saber aos que este Alvará virem, que havendo respeito ao que me enviaram por sua Carta os oficiais da Câmara da Cidade de Viseu, e D. João Manuel, Bispo dela, do meu Conselho, acerca da mudança da casa de S. Francisco de Orgens da Província de Santo António que está junto à dita cidade, para mais perto dela, que o Ministro Provincial e mais Religiosos me pediram por sua Petição o houvesse assim por bem, pelo melhor cómodo com que ficavam para serem socorridos em suas necessidades e doenças, e o dito Mosteiro estar mui danificado, de maneira que em breve tempo poderá vir a cair; e pelos mais respeitos que alegavam, e visto o mais que constou por informação que se houve do Corregedor da Comarca sobre esta matéria, e mais diligências que acerca dela fez: E por desejar de fazer Mercê por esmola aos ditos Religiosos: Hei por bem e me praz de lhe dar licença para que eles possam mudar e mudem a dita Casa do Mosteiro de S. Francisco de Orgens para junto da dita cidade, no sítio e lugar onde está assentado pelos oficiais da Câmara e eles Padres, e se faça outro de novo, sem embargo de quaisquer leis ou Provisões que haja em contrário, com declaração que os ditos Religiosos não pedirão esmolas para a fábrica do Mosteiro novo sem minha licença, e serão obrigados a comprar o sítio onde se há-de fazer, a prazimento dos donos e sem constrangimento seu, e não o achando ali todo, onde ora o têm determinado fazer, como dito é, poderão buscar outro sítio que livremente lhe quiserem vender para isso, onda possam fazer o dito Mosteiro: E não ficarão Frades nenhuns no Mosteiro Velho: E a igreja dele, havendo de ficar em pé, se entregará a um clérigo ou ermitão: E as casas e horta dela poderão eles Religiosos vender a quem lhes parecer: De modo que não fique lá um mosteiro e na cidade outro. E havendo na dita igreja velha algumas capelas com missas e sufrágios as transferirão para o novo mosteiro, nos mesmos sítios, fazendo tudo à sua custa, não querendo os herdeiros delas fazê-las. E sendo necessário Breve de Sua Santidade para este negócio, eles Religiosos o impetrarão à sua custa. E se não poderão mudar para o Mosteiro novo até de todo estar pronto e acabado: E a escritura que se fizer, com as ditas declarações, se porá na Arca da Câmara da dita cidade para se ver se se cumpre; e não a cumprindo, os Oficiais dela lhe embargarão a obra ou mudança para o dito Mosteiro. E mando ao Corregedor e mais justiças, oficiais e pessoas a que o conhecimento disto pertencer, que cumpram e guardem e façam inteiramente cumprir e guardar este Alvará como nele se contém, o qual quero que valha como Carta, sem embargo da Ordenação do 2º Livº. Tit. 4º em contrário.

Francisco Ferreira o fez em Lisboa a 30 de Agosto de 1613. João Travaços da Costa o fez escrever - Rey - Luís Machado de Gouveia - Francisco Vaz Pinto. Há Sua Majestade por bem que o Mosteiro de S. Francisco de Orgens da Província de Santo António que está cerca da cidade de Viseu, se mude para junto dela como pedem os Religiosos dele, com as condições acima declaradas. Para Sua Majestade ver. Por Carta de Sua Majestade de 8 de Agosto de 1613. Pagou nada por ser por esmola. Em Lisboa, o Primeiro de Outubro de 613. E ao Registo somente Cem réis - Miguel Maldonado. Registado na Chancelaria a fl. 160. Aleixo Ferreira".

(Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Memórias e Apontamentos para a Chrónica do Convento de Santo António de Viseu. Ms. inédito.)

3. PATENTE DO COMISSÁRIO GERAL FR. BERNARDINO DE SENA PARA SE MUDAR O CONVENTO DE ORGENS PARA A CIDADE DE VISEU (6 -JUNHO - 1621)

- "Fray Bernardino de Sena, Comissáro General y Siervo de toda esta Familia Cismontana de la Orden de Nuestro Seráfico Padre San Francisco, a los Padres del Difinitorio de nuestra provincia de San Antonio de Portugal, Salud y paz en Nuestro Señor Jesu Christo. Por quanto el Definitorio General de esta nuestra Congregación, celebrada en este Nuestro Convento de San Francisco de Segovia de que hecha relación, y le consta ser mui desacomodado para la salud de los Religiosos el puesto donde al presente está el Convento de San Francisco de Viseu, y por outros muchos inconvenientes: Damos licencia, y facultad para que puedan Vuestras Paternidades mudar le a outro sitio que sea mas aproposito para la habitación de los Religiosos, y servicio de Dios Nuestro Señor: Datum en Nuestro Convento de San Francisco de Segovia, y Junio a 6 de 1621.

Lugar do Selo. Fr. Bernardino de Sena Comissario General".

(Este selo é o mesmo que usava o Pe. Fr. André da Insua e só difere na legenda, que é a seguinte: - Comissarius. Generalis. Ordinis. Minorum.)

(Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Memórias e Apontamentos para a Chrónica do Convento de Santo António de Viseu. Ms. inédito).



BIBLIOGRAFIA BREVE

A - FONTES MANUSCRITAS

I ARQUIVO DISTRITAL DE VISEU
- Notas de Viseu, Nº 1004/18

II ARQUIVO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS - LISBOA
- Situação dos Edifícios de Institutos Religiosos ao Serviço do Estado e das Corporações. Conventos de Frades. Vizeu. Convento de S. Francisco do Monte. S. Francisco/Província da Conceição. Inventário Nº 447. Nº antigo 16. Beira Alta (Documentação transferida, ultimamente, para o
ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO).

III ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO
- Dicionário Geográfico - Viseu (Memórias Paroquiais)

IV BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VISEU
- COELHO, José - Cadernos de Notas Arqueológicas

V LIVRARIA DE ALEXANDRE ALVES
- VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de (Fr.) - Memórias e Apontamentos para a Chronica do Convento de Santo António de Viseu. S/d.

VI LIVRARIA DO DR JOSÉ COELHO
- Sousa, Agostinho Nunes de (cónego) - Olympo Mystico. Fraga Prodigiosa. Ano 1775

B - FONTES IMPRESSAS

OBRAS CONSULTADAS

 - ALMEIDA, Fortunato de - História da Igreja em Portugal, Ed. Preparada e Dirigida por Damião Peres. 4 vols. Portucalense Editora. Porto. Barcelos. 1970
- ALVES, Alexandre - Artistas e artífices nas dioceses de Lamego e de Viseu. Revista "Beira Alta".
- ARAGÃO, Maximiano - Viseu (Província da Beira). Subsídios para a sua história desde fins do século XV. Instituições Religiosas. Porto. 1928
- AZEVEDO, Joaquim (D.) - História Ecclesiástica da Cidade e Bispado de Lamego. Porto, 1878
- COELHO, José - Memórias de Viseu (Arredores) (Subsídios para a sua história). Viseu. 1941
- ESPERANÇA, Manuel da (Fr.) - História Seráfica da Ordem dos Frades menores da Província de Portugal. Lisboa. 1666
- JESUS, MARIA E JOSÉ, Pedro de (Fr.) - Chronica da Santa e Real Província da Imaculada Conceição de Portugal, Vol. 1, Lisboa, 1754
- LOPES, Fernando Fernandes (Pe.) - Franciscanos. Dicionário de Portugal. Direcção de Joel Serrão. Vol. III. Livraria Figueirinhas. Porto. Abril 1975
- LUCENA, Gabriel de, O Convento de S. Francisco d'Orgens, in "Almanach de Vizeu Illustrado. Primeiro Anno. 1884
- MARQUES, A.H. de Oliveira - História de Portugal. Vol. II, Palas Editora. Lisboa. Janeiro de 1976
- OLIVEIRA - Miguel (Pe.) - História Eclesiástica de Portugal, 3ª Edição. União Gráfica. Lisboa. 1958
- O Manuscrito sobre Viseu de Francisco Manuel Correia. Notas e Comentários de Lucena e Vale. Edição da Junta Distrital de Viseu. 1974
- PEREIRA, Manuel Botelho Ribeiro - Diálogos Moraes e Políticos... Viseu. 1630. Ed. da Revista "Beira Alta", Viseu 1955
- SANTA MARIA, Agostinho de (Fr.) - Santuário Mariano. Ano de 1716. "Da milagrosa imagem de Nossa Senhora da Conceição do Convento de S. Francisco do Monte de Viseu". Liv. II, Tit. XXI. Pp. 219 - 221.
- SERRÃO, Joaquim Veríssimo - História de Portugal, Vol. III. Editorial Verbo. Março 1986.
_____________________________________

NOTAS

* Investigador. Membro da Academia Nacional de Belas Artes e da Academia Portuguesa de História.

(1) "Manuel Botelho Ribeiro, natural da cidade de Viseu. Foram seus progenitores Sebastião Ribeiro Pinto e D. Maria Botelho. Foi cavaleiro da Ordem de Cristo e muito versado na lição da História profana e genealogia. Para se mostrar grato à pátria em que nascera, compôs no ano de 1650 Diálogos Moraes, e Políticos sobre a fundação de Viseu, História dos seus bispos e gerações com muitos sucessos que nelle acontecerão, e outras Antiguidades. Fl. M.S. Desta obra como do seu autor fazem menção Fr. Manuel da Esperança, Hist. Seráf. Da Prov. De Portugal. Parte I, liv. 4, cap. 13 n.I na margem, e D. António Caetano de Sousa Apparat. à Hist Geneal. Da Casa Real, pag. 918-86", (Diogo Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana, Tomo III, p. 199. Lisboa MDCCLII). Manoel Botelho Ribeiro Pereira, de seu nome completo, foi "Bacharel em Cânones", Os Diálogos... foram compostos entre 1630 e 1639.

(2) Compadre do rei D. João I, da Boa Memória, por ter sido padrinho do baptismo do Infante D. Henrique.

(3) Neste tempo, havia já 16 anos que o "Mosteiro de S. Domingos da par Dorgens", fora fundado.

(4) Nomeia Ribeiro Pereira outras personalidades da fidalguia viseense. Assim, no pavimento da capela-mor, jazem: D. Leonor de Castro com seu irmão D. Henrique de Castro, filhos de D. Pedro de Castro (de Reriz?), aquela viúva de João Roiz Pereira, filho de Gonçalo Pereira, de Riba de Vizela; D. Joana de Crestelo, filha de Rui Freire de Andrade, mãe de Álvaro Freire "que também ali jaz"; D. Beatriz Nunes da Costa, mulher de Leonel de Queiroz Castelo Branco, e seus filhos jazem na sepultura junto do altar de Santo António, no arco e capela que D. Beatriz mandara fazer para esse fim. Seu marido, falecido em Évora, jaz na Igreja de S. Francisco daquela cidade. "As duas sepulturas que estão em os arcos da parede da Igreja são, uma, de D. Tareja (ou Teresa) de Andrade, mãe de Fernão Cabral, sr. de Belmonte, porém não jaz nela por morrer em Lisboa. A de baixo é de Beatriz de Gouveia, irmã de João de Gouveia do Colmeal, mulher de João d'Almeida de Lamaçais, que faleceu no ano de 1449. Isabel de Amaral de Vasconcelos jaz no Capítulo novo que ela fez e lhe fora dado por autoridade do Papa; etc., etc.

(5) A família dos Abreus tem por armas um escudo "de vermelho, com cinco asas de ouro em santor. Timbre: uma asa do escudo".

(6) Dr. Manuel Botelho Ribeiro Pereira, Diálogos... Diálogo IV, cap. 32, p. 422 da edição da Revista "Beira Alta".

(7) No "Inventário" antigo de S. Francisco do Monte, a fl. 66 vº., lia-se: "No ano do Senhor de 1574, a 20 de Setembro, a requerimento da Senhora Dona Joana Freire, e por ordenança de Fr. Marcos, Ministro desta Província de Santo António, estando presente, e também o Senhor Álvaro Freire, filho mais velho da dita Senhora, se tiraram tábuas do solhamento do Coro para se descobrirem as sepulturas que debaixo estavam, e descobriram a sepultura dos Silvas, com campa, e nela armas, a saber, um leão, a qual está distante para os degraus do altar-mor. E depois se descobriu a sepultura dos Freires Andrades que tem pedra com suas armas, etc., a qual está ao longo das cadeiras, da parte do Evangelho. A qual sepultura é da dita Senhora e de sua geração passada e futura que ali se pode sepultar = Fr. Marcos, Ministro Provincial".
E a fl. 47 se acha a verba seguinte, da mesma pena: "Na dita capela-mor, à outra parte, jaz Rui Freire, que foi Alcaide Mor desta cidade de Viseu, e sua filha Dona Joana que vive em Crestelo, freguesia de Povolide. Faz caridade a esta Casa".

(8) Uma notícia do "Inventário" relativa a esta época, informava: "a igreja há quatro ou cinco anos que está muita parte dela caída e com esteios e espeques se sustenta desde o dito tempo, com o mais Mosteiro, que tudo está arruinado...".

(9) O primeiro volume da Chronica da Santa e Real Província da Imaculada Conceição de Portugal, da autoria de Fr. Pedro de Jesus Maria José (Lisboa, 1754), faz do acontecimento o seguinte relato: "Em 6 de Maio [de 1635] veio o Santíssimo Sacramento do Convento de Orgens para Massorim em procissão solene com dois andores, um com a imagem da Conceição e outro com a de Santo António, mandadas fazer pelo Ministro Provincial Fr. Manuel de Santa Catarina que trouxera o Santíssimo. A ela acorreram inumeráveis pessoas dos lugares vizinhos e freguesias filiais da Sé: Orgens, S. Salvador, Ranhados, Fragosela, Rio de Loba e Abraveses, e bem assim os religiosos que ali [em Orgens] estavam, presididos pelo Provincial Fr. Francisco de S. Miguel".

(10) Arquivo Distrital de Viseu, Notas de Viseu, Liv. 1104 - 18, fol. 226 - 227 vº; vide: Alexandre Alves, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e de Viseu, in Revista "Beira Alta".

(11) Entre os quatro capitulares assistentes à cerimónia do lançamento da 1ª pedra, contava-se o Cónego Agostinho Nunes de Sousa, autor do Olympo Mystico e fundador do Hospício do Senhor Santo Cristo da Fraga (Ferreira de Aves - Sátão) que diz ter-se dado o acontecimento em 15 de Junho de 1742 e não em 20, como escreveu Viterbo.

(12) Maximiano Aragão, Viseu (Província da Beira). Subsídios para a sua história desde fins do Séc. XV. Instituições Religiosas, Porto. 1928, pp. 395 - 396.

(13) Idem. Ibidem, p. 396.

(14) Viterbo, op. cit.

(15) O Dr Manuel Joaquim d'Almeida Silva Gaio tinha banca de Advogado em Viseu. Seu filho, Dr António da Silva Gaio foi Lente de Medicina em Coimbra e "festejado" autor do romance Mário.

(16) Fr. José de Santa Catarina devia ser pessoa idosa ou estar emocionado naquela ocasião, pois a sua letra, então visivelmente trémula, era alongada, fina e de bom talhe.

(17) O livro do Inventário compõe-se de 32 folhas, das quais apenas 28 são numeradas e a última somente preenchida no rosto.
O total dos encargos com as autoridades e avaliadores ascendeu a 59.864 réis.

(18) O relógio, ainda existente, é considerado o mais antigo de Portugal. A preciosa relíquia, inteiramente de ferro, data do século XV e foi concluída por Fr. João da Comenda, natural de S. Pedro do Sul, em 1478. Encontra-se actualmente (Novembro do ano 2.000) devidamente preservado e encaixotado. (Vide: "Jornal da Beira", nº 3.758, Viseu, 15.04.1993).

(19) Na Cerca do Convento, terreno em socalcos e abundante de águas, feracíssimo e abrigado dos ventos frios, cultivava-se (e cultiva-se...) toda a variedade de plantas hortículas e árvores de fruto. Outrora, tinham fama os melões dos frades de Orgens, sumarentos e doces, de uma casta seleccionada, única.

(20) Nº 447 - Vizeu. Convento de S. Francisco do Monte - S. Francisco / Província da Conceição. Nº antigo 16. Beira Alta.

(21) Cónego Francisco Manuel Correia, Memórias em respeito à cidade de Vizeu... Ano de 1876. Ms. do Cartório da Câmara Eclesiástica de Viseu; O Manuscrito sobre Viseu de Francisco Manuel Correia. Notas e Comentários de Lucena e Vale. Edição da Junta Distrital de Viseu, 1974.

(22) José Coelho, Beira Histórica, Arqueológica e Artística. Memórias de Viseu (Arredores), Viseu - 1941, pp. 171 - 172, (nota 11).

(23) José Coelho, Cadernos de Notas Arqueológicas, cad. nº 35, fl. 36.

(24) Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde. Naquele tempo, era Provedor Bernardo José de Oliveira Pires.

(25) Meredith Press, New York, 1968, p. 232, il. nº 184.

(26) Hábil entalhador cuja fama ultrapassou os limites da diocese de Viseu, deixando obra notável na Sé da longínqua diocese de Miranda do Douro.
Casou com Isabel Rebelo. Faleceu em Viseu, em 13 de Agosto de 1688, na sua casa da Rua do Soar, ficando sepultado no claustro do Mosteiro de Santo António dos Capuchos. Dos quatro filhos que o casal teve, dois professaram na Ordem de S. Francisco (capuchos).

(27) Tem de estatura 1,05m.

(28) Sempre, entre os religiosos, houve algum (ou alguns) familiarizado com os segredos da Arte. Recorde-se, a propósito, que o retábulo do altar de Santo António da igreja matriz de Mangualde foi executado em 1750, "na forma e circunstância de uma planta escrita pela mão e letra de Fr. Francisco, assistente em Orgens".

(29) Este brasão é semelhante a outro existente no cunhal da antiga Casa dos "Albuquerques do Arco", hoje Escola Secundária de Emídio Navarro.

(30) Maximiano Aragão, Viseu (Província da Beira) Subsídios para a sua história desde fins do século XV. Instituições Religiosas. Porto. 1928, pp. 399 - 400.
 
(31) In. Academia Portuguesa da História, Viagens em Portugal de Manuel Severim de Faria 1604 - 1609 - 1625 pelo Académico de Número Joaquim Veríssimo Serrão. Lisboa. MCMLXXIV, p. 105, nota 61. 

Site Meter