sexta-feira, setembro 23, 2005

Viriatis, vol. IV, ano de 1960 (6/9)

BRIGADAS DE RESTAURADORES
por João Rodrigues da Silva Couto

Em 23 de Abril de 1952, apresentei à 6ª Secção da Junta Nacional de Educação a seguinte proposta, que foi aprovada em sessão de 9 de Maio de 1952 e obteve homologação superior em 14 de Maio do mesmo ano.

«Não é desconhecido o estado precário em que se encontra grande parte da pintura antiga, existente em várias regiões do pais. Nos próprios Museus isso sucede quando, por falta de meios ou pessoal adequado, não são dispensados cuidados permanentes a essas delicadas obras.

«Não é este o momento azado para enunciar todos os males que permanentemente atacam os painéis e para descrever todos os meios de que a ciência dispõe para os debelar. O Museu de Arte Antiga, de Lisboa, possui hoje um laboratório onde eficazmente se pode proceder a todos os tratamentos que exigem os quadros atacados.

«De tempos a tempos as pinturas necessitam que lhes dispen¬sem cuidados de conservação. Se um dia elas foram mesmo sujeitas a beneficiações mais profundas, como por exemplo, sucedeu a tantos quadros que se reuniram na grande exposição que teve lugar em Lisboa, no ano de 1940 e depois voltaram para os locais a que pertenciam, então os cuidados têm de ser maiores, pois foram até certo ponto diminuidas as condições de estabilidade que até ali desfrutavam.

«Se, permanentemente, a Galeria de Lisboa é vigiada e tratada, impõe-se que, com regularidade, se verifiquem as condições em que se encontram as pinturas dispersas pelo país, nem sempre guardadas em locais convenientemente preparados para bem as acolher e proteger.

«Evidentemente que em casos melindrosos é indispensável deslocar as obras a Lisboa e tratá-las na oficina do Estado. Mas se se lhes acudir sempre que surja qualquer moléstia, atenuam-se consideràvelmente os prejuízos que podem mais tarde vir a ocorrer. Antes que, por exemplo, uma parte da pelicula cromática se destaque do suporte, pequenos vestígios desse mal já, de certo, haviam permitido que se desse pela doença e que se lhe tivesse acudido a tempo.

«A criação de brigadas de restauradores que percorram o pais e procedam nos próprios locais aos trabalhos de fixação e primeiras intervenções que o restauro das pinturas exige, parece ser o meio mais pronto, mais económico e mais eficaz de atacar este melindroso problema.

«Para ocorrer às despesas que este projecto acarreta, julgamos ser necessário reforçar a dotação da oficina com a verba adiante mencionada, naturalmente insignificante se considerarmos o enorme trabalho que há a fazer. Mas esta primeira quantia seria concedida a título de experiência, e nos anos seguintes, iria sendo sucessivamente aumentada:



«São enormes as responsabilidades que pesam sobre todas as pessoas a quem compete velar pela conservação das pinturas que constituem parte essencial do património da nação. Como é do conhecimento dessas pessoas o estado precário em que as obras se encontram, serão naturalmente elas próprias as primeiras interessadas em procurar remediar tamanho mal. A pintura antiga e moderna que existe na provincia, e mesmo em bastantes locais de Lisboa, está em parte a perder-se. Não é exagerado dispender trinta e três mil escudos para remediar a aflitiva situação».

Se o problema for revisto, e é urgente que o seja a não ser que queiramos assistir de braços cruzados à perda do nosso património pictural, devem corrigir-se as verbas respeitantes ao custo do serviço. O aumento que haveria a propor é de tal modo insignificante em relação à importância dos fins que se pretendem atingir, que nem vale a pena apresentar razões que o justifiquem.

ass.) João Rodrigues da Silva Couto
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