domingo, setembro 25, 2005

Viriatis, vol. IV, ano de 1960 (9/9)

RELATÓRIO ENVIADO PELO DR. JOÃO COUTO AO EXMO. SENHOR DIRECTOR GERAL DO ENSINO SUPERIOR E DAS BELAS-ARTES

Tenho a honra de mandar a V. Ex.ª um relatório sumário acerca daquilo que se passou na 1ª Reunião dos Conservadores dos Museus, Palácios e Monumentos Nacionais. Este trabalho será completado - 1°/com a leitura da fita na qual se gravaram os debates. 2º/Com as sugestões finais que estão a ser redigidas por uma Comissão para esse fim nomeada.

Por iniciativa do Dr. Russell Cortez teve lugar em Viseu nos dias 21, 22 e 23 de Setembro de 1960, a primeira reunião dos Conservadores dos Museus, Palácios e Monumentos Nacionais.

Vossa Excelência dignou-se, em representação de S. Ex.ª o Ministro da Educação Nacional, presidir à sessão de abertura. Foi um encantamento para todos que tomaram parte na reunião ouvir as palavras da situação do problema, de estímulo e de entusiasmo proferidas nessa altura.

A alocução de V. Ex.ª conseguiu dar ordenação e o incitamento com que, após ela, os trabalhos decorreram.

O Dr. Russell Cortez congratulou-se com a autorização que lhe fora dada para que a primeira reunião tivesse lugar no Museu de Grão Vasco e lembrou que a sua ideia tinha por base a palestra que o signatário havia lido no Museu de Bragança, no ano de 1941, sob o título «Congresso e Conferências do Pessoal Superior dos Museus de Artes.

Durante os dias da reunião, tiveram lugar, além das sessões de abertura e de encerramento, quatro reuniões de trabalho às quais presidiram sucessivamente, por minha indicação, o signatário, o Director do Museu Soares dos Reis, do Porto, o Director do Museu Nacional dos Coches, de Lisboa e o Director do Museu de Aveiro.

O Temário das reuniões abrangia os seguintes assuntos:

1º - Extensão escolar dos Museus,
2º - O Director do Museu e a defesa do património artístico Nacional,
3º - O restauro de obras de arte dos Museus da Província,
4º - Fundo de apetrechamento dos Museus.

Como V. Exª, Senhor Director Geral, me havia generosamente confiado, antes da sua partida para Lisboa, a direcção dos trabalhos do colóquio, pareceu-me vantajoso que em cada uma das reuniões previstas se debatesse um assunto do Temário.

Todos os presentes concordaram com esta minha proposta e os trabalhos prosseguiram da forma que passo a explicar.

Antes porém vou dizer quais eram os Museus representados na reunião: O Museu de Lisboa, pelo seu Director (Dr. João Couto), por dois Conservadores (D. Maria José de Mendonça e o Pintor Abel de Moum) , por uma conservadora estagiária (D. Glória Guerreiro) e pela chefe do Serviço de extensão escolar (D. Madalena Cabral); o Museu do Porto pelo seu Director (Dr. Manuel de Figueiredo), uma conservadora (D. Clementina Quaresma) e dois conservadores ajudantes (Srs. p.e Xavier Coutinho e Dr. Manuel Rosas); o Museu dos Coches pelo seu Director (Sr. A. Cardoso Pinto); o Museu de Viseu, o Museu de Lamego, o Museu de A veiro, o Museu de Guimarães e o Museu de Angra do Heroísmo pelos respectivos Directores Dr. Russell Cortez, Dr. Montenegro Flórido, Dr. António Manuel Gonçalves, D. Maria Emilia Amaral Teixeira e Dr. Baptista de Lima).

Participaram ainda na reunião dois conservadores adjuntos dos Museus (D. Maria Alice Beaumont e Dr. Carlos de Azevedo) e assistiu à reunião de abertura o Director do Museu do Caramulo (Dr. João de Lacerda).

Estiveram presentes a parte dos trabalhos o Presidente da Fundação C. Gulbenkian (Dr. José Azeredo Perdigão) que se fez acompanhar de duas conservadoras do seu Museu (D. Maria Teresa de Andrade e Sousa Gomes Ferreira e D. Maria Helena Maia e MeIo) e, na sessão de encerramento compareceu, facto que grande júbilo suscitou no auditório, o Director dos Serviços do Património Artístico do Brasil, Dr. Rodrigo de Melo Franco de Andrade que se fez acompanhar do arquitecto dos mesmos serviços, Sr. Paulo Barreto.

Retomemos a sucinta descrição dos debates.

Primeira sessão de trabalhos (tarde do dia 21)

Presidiu o Dr. João Couto.

Logo no início da reunião o Dr. Azeredo Perdigão, em nome da Fundação Gulbenkian a que preside, e o Dr. Carlos de Azevedo, em nome dos Serviços do Plano Fullbright, dos quais é Secretário, manifestaram o seu desejo de colaborar e de auxiliar as iniciativas que necessitassem de estímulo e ajuda material. O Dr. Azeredo Perdigão disse que a Fundação Gulbenkian não pretendia de forma alguma sobrepor-se aos serviços do Estado quando estes já estivessem criados e em funcionamento. O seu intuito era ajudar as iniciativas que fossem reconhecidas proveitosas. Antes de se passar a discutir o primeiro assunto do Temário: «Extensão escolar dos museus», o Sr. Cardoso Pinto referiu-se à morte do Dr. Pereira Dias, antigo Director Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes e vogal do Instituto de Alta Cultura e fez o seu elogio. O Signatário gostosamente se associou ao voto de sentimento proposto.

Ainda no uso da palavra, o Dr. João Couto apresentou o trabalho da sua colaboradora Madalena Cabral e explicou o que, em matéria de extensão escolar tem sido feito no Museu de Arte Antiga. Outro tanto fez o Dr. Russell Cortez em relação ao Museu de Viseu. Discutiu-se largamente o problema do voluntariado na extensão escolar. O Dr. Carlos de Azevedo tratou da matéria tal como se pratica nos Museus americanos e perguntou se se deveriam adoptar regras gerais aplicáveis a todos os Museus ou se cada um devia continuar com o serviço tal como o imaginou e pôs em prática.

Julga porém que se deveriam estimular todos os museus que não tivessem este serviço organizado. A Sra. D. Maria José de Mendonça falou largamente do serviço de extensão escolar do Museu de Brooklin e também do voluntariado tal como ali é concebido. O Dr. Azeredo Perdigão referiu-se aos serviços educativos da Fundação que dirige pondo sobretudo em relevo os resultados das Bibliotecas Itinerantes. A este propósito foi apreciada a falta de livros de arte para as crianças, julgando todos os assistentes que se devia estimular uma campanha no sentido de interessar os escritores e os editores em tão útil finalidade. A Sra. D. Maria José de Mendonça propôs que em cada Museu houvesse uma sala destinada às crianças tal como aquela que já hoje, em embrião, funciona no Museu de Arte Antiga, sob a direcção da Sra. D. Madalena Cabral. Parece-lhe também útil que junto dessa sala houvesse um pequeno museu para as crianças com objectos que elas pudessem manusear.

O assunto foi aceite por todos os circunstantes e o Dr. Carlos de Azevedo sugeriu que ele desse o tema e uma das sugestões finais deste debate.

Segunda sessão de trabalhos (manhã do dia 22)

Presidiu o Dr. Manuel de Figueiredo e o Dr. João Couto apresentou o resumo da sessão anterior.

O Dr. Manuel de Figueiredo que não tinha assistido aos trabaJhos do dia anterior, começou por explicar o que no Museu Nacional de Soares dos Reis se tinha feito em matéria de extensão escolar. Falou em seguida da ampliação do Museu Soares dos Reis e do teatro de verdura, que com dinheiro dado pela Fundação Gulbenkian tenciona construir nos Jardins do Museu. Associou-se ao voto de sentimento pelo falecimento do Professor Pereira Dias e felicitou o Dr. Russell Cortez pela sua iniciativa.

O Dr. A. Gonçalves, inscrito com uma comunicação dentro do tema desta sessão, leu o seu trabalho que versava «A Deontologia da profissão do conservador».

O problema foi largamente tratado, tendo o signatário, Dr. João Couto adiantado que além dos mil problemas que assoberbam a actividade dum verdadeiro conservador, considera ser o mais importante o problema das aquisições.

O assunto levou naturalmente à discussão do problema do estágio.

O signatário deste relatório que, de certo modo, é responsável pela preparação dos conservadores dos Museus, fez uma larga apresentação e apreciação do assunto pondo em destaque os males de que, a seu ver, enferma a actual legislação.

O Dr. RusseIl Cortez depois de falar da acção do Professor Leite de Vasconcelos no Museu Etnológico de Belém, ocupou-se da preparação dos conservadores no país vizinho. A discussão do assunto generalizou-se e acerca dele falaram também os Drs. A. Gonçalves e Baptista de Lima. Abordou-se o problema sob o aspecto orçamental e discutiram-se as possibilidades de se fazerem estágios nos Museus da província.

A 8ra. D. Maria José de Mendonça, referindo-se às oficinas anexas ao Museu de Lisboa, disse julgar que os conservadores as deviam frequentar.

Discutindo-se o problema do Director do Museu em face da defesa do Património Artístico Nacional a 8ra. D. Maria Emilia Amaral Teixeira perguntou como devia entender-se a posição do Director do Museu em face das obras do Património Nacional existentes fora dele.

O Dr. Manuel de Figueiredo referiu-se às Comissões de Arte e Arqueologia das Câmaras Municipais, à sua acção e à colaboração do pessoal dos Museus.

O Dr. João Couto entende que não deve alargar-se muito a intervenção dos conservadores neste particular visto que eles têm muito que fazer dentro dos Museus em que trabalham.

O Dr. Baptista de Lima abordou a posição do conservador nas localidades onde existem órgãos responsáveis pela defesa do Património Artístico. Parece-lhe que o conservador devia ter uma posição na Junta Nacional de Educação na qual funcionaria como informador.

O Dr. A. Manuel Gonçalves ocupou-se da classificação dos Monumentos e da sua posição nas Comissões Concelhias.

O Dr. Russell Cortez chamou a atenção da Assembleia para a acuidade do problema e depois de ter feito a história do «Inventário Artístico Nacional disse qual, em seu entender, devia ser a colaboração dos funcionários dos Museus na elaboração de tão importante arquivo. Parece-lhe que os Directores dos Museus Regionais deveriam ser encarregados de fazer os Inventários Artísticos das suas regiões.

O Senhor Cardoso Pinto, tratando do mesmo assunto disse que a verba para a execução do inventário pertencia à 6ª secção da Junta Nacional de Educação. Explicou os motivos que determinaram a passagem do inventário para a Academia Nacional de Belas-Artes e adiantou que, em seu entender, o mesmo devia ser feito por brigadas de especialistas.

O Dr. João Couto, insistindo numa opinião que já formulara adiantou que os Conservadores dos Museus, se o quiserem, têm muito que fazer dentro dos estabelecimentos onde laboram.

O Dr. Manuel de Figueiredo voltou a referir-se ao trabalho das comissões de Arte e Arqueologia Municipais.

O Dr. Russell Cortez, dentro do mesmo assunto, ocupou-se da actividade das Comissões Locais de Turismo; insistiu na necessidade de se activar o Inventário Artístico e emitiu a opinião de que haveria vantagem em criar as superintendências regionais com o âmbito de acção que lhes confere a legislação italiana.

O Dr. Baptista de Lima entende que há toda a vantagem em completar a rede dos Museus Nacionais e Regionais, dependentes da nossa Direcção Geral.

A propósito do assunto em debate o Dr. Russell Cortez contou a história sucedida com o Prof. Mendes Correia a propósito da colecção Hipólito Cabaço, de Alenquer.

O Dr. A. Gonçalves referiu-se às vantagens e desvantagens da criação dos Museus Etnográficos e de História ao lado dos outros seus oficiais.

A seguir o Dr. João Couto leu a sua comunicação acerca das Reservas dos Museus.

O Dr. Carlos de Azevedo referiu-se à resistência das escolas em colaborar no serviço de Extensão Escolar e o Sr. Cardoso Pinto emitiu o parecer de que não compete aos Museus fomentar as visitas dos alunos aos estabelecimentos, opinião de que discordou o Dr. Couto por achar que no momento actual todos devem contribuir para activar esse serviço. Contou a propósito o que se fazia no Liceu Pedro Nunes quando ali era professor e exaltou a memória do Reitor Sá de Oliveira.

O Dr. Montenegro Flórido contou o que se tem passado no Museu de Lamego desde que ali foi fixado o Regimento de Caçadores. Os Comandantes da unidade fomentam a visita dos seus subordinados ao Museu e leu os números da frequência habitual de oficiais, sargentos e praças.

O Sr. Abel Moura formulou a opinião de que um serviço idêntico devia ser estimulado nos Seminários e Colégios das Ordens Religiosas.

Em conclusão, o Dr. João Couto disse julgar que os Museus devem fazer tudo quanto estiver ao seu alcance para fomentar a extensão escolar nos mesmos.

Terceira sessão de trabalhos (tarde do dia 22)

Presidiu o Sr. A. Cardoso Pinto

Antes de se abordar o assunto previsto no temário para esta reunião foi resolvido dedicar ainda alguns momentos aos problemas tratados na sessão da manhã.

O Dr. A. Gonçalves abordou os problemas da criação dos primeiros Museus Regionais e o da Fundação Gulbenkian em face dos mesmos organismos.

Sobre esta matéria estabeleceu-se um debate em que tomaram parte a Sra. D. Maria José de Mendonça e os Srs. Cardoso Pinto e João Couto.

Falou ainda sobre o assunto o Dr. Baptista de Lima que foi cumprimentado pelo Presidente, pondo em relevo os serviços que à causa dos Museus vem prestando.

O Dr. Russell Cortez referiu-se largamente à criação do Museu de Etnologia da Beira.

Passou-se em seguida ao assunto do temário que versava o Restauro das Obras de Arte.

O Dr. João Couto leu a sua comunicação intitulada «Brigadasde restauradores».

A Sra. D. Maria José de Mendonça leu em seguida o seu trabalho que versava o tema «Conservação de Têxteis nos Museus da Provincial».

O Sr. Cardoso Pinto apreciou o trabalho da Sra. D. Maria José de Mendonça, fazendo esta Senhora algumas considerações sobre o assunto.

O Dr. Manuel de Figueiredo tratou do problema das obras existentes em colecções particulares e a sua conservação.

O Dr. João Couto expôs largamente a situação da oficina de Restauro do Museu e dos meios que lhe são facultados para poder exercer a sua actividade. Disse que no momento presente os pedidos de restauro dos Museus, das Igrejas e doutras instituições eram tantos que se tornava necessário pedir muito mais dinheiro para que a sua laboração se pudesse intensificar.

Nesta altura evocou-se a memória do saudoso restaurador Fernando Mardel que tão grandes serviços prestou no campo em que exercia a sua profissão.

O Sr. Abel de Moura apresentou o seu trabalho acerca da «Conservação das obras de arte» que foi apreciado pelo Presidente, Sr. Cardoso Pinto.

O Dr. Russell Cortez mostrou os gráficos da distribuição da humidade e da temperatura colhidos no Museu de Viseu. É um importante empreendimento que a assembleia apreciou. Em seu entender não se devem multiplicar as oficinas de restauro, antes se deve melhorar a de Lisboa e facultar aos interessados os meios
para que se possam transportar em boas condições as obras de arte doentes.

O Dr. João Couto, retomando o pensamento do poeta Afonso Lopes Vieira sobre restauro das obras de arte, disse que cada vez se mostrava mais avesso às intervenções a fundo e que compreendia agora melhor a ideia do poeta propondo substituir a palavra «restauro» pela de «beneficiação». Bordou largas considerações a respeito do restauro, das suas vantagens e dos seus perigos.

O Dr. Russell Cortez apresentou a seguir uma série de esculturas que haviam sido beneficiadas no seu Museu e pediu a opinião dos circunstantes a respeito do trabalho executado.

Mencionou alguns processos que utilizara, tais como: o ar comprimido a duas atmosferas, a impregnação de cera e do Xilamon.

Como houvesse alguns exemplos de reconstituição de peças, o assunto, por deveras delicado, mereceu largo debate.

Acentuou-se que se deviam manter todos os esforços para conservar a policromia antiga e, no caso de uma imagem (S. Sebastião) em que existia um preparo de linho, os circunstantes foram de opinião que se devia conservar tudo quanto era antigo e não reconstituir o que não existia.

Discutiu-se ainda o arranjo de uma escultura em pedra da oficina de Mestre Pero que foi engessada e colada. O arranjo foi julgado admissível.

O Dr. João Couto contou o que vira em matéria de reconstituição das esculturas etruscas do Museu de Viterbo e referiu-se aos danos gravíssimos que estão a sofrer as esculturas românicas que decoram uma porta da Igreja de S. Tiago de Compostela. A propósito referiu os esforços sem resultado duma Comissão da Unesco encarregada de resolver o problema.

O Dr. Russell Cortez voltou a tratar da questão da câmara de expurgo e das causas de danificação das imagens. Disse que no Museu de Estocolmo, por meio de processos químicos, se pretendia evitar as deteriorações.

O Dr. Manuel de Figueiredo referiu-se à deterioração das pedras e o Sr. Cardoso Pinto às más pinturas de tantas imagens existentes na província. Segundo ele nestes casos haveria vantagem de proceder a sondagens para avaliar qual o estado das pinturas subjacentes.

O Dr. Xavier Coutinho levantou o problema de saber se não haveria vantagem em completar as peças mutiladas quando se destinassem a ser mostrad8Js às crianças.

A Pintora Madalena Cabral julga que as obras se devem apresentar no estado em que estão, pois as crianças as recebem com maior compreensão. Isso lhe tem ensinado a sua experiência no serviço do M. A. A. Para ela, as crianças podem chegar até às peças mutiladas desde que se lhes explique como foram concebidas e como foram danificadas.

É também a opinião do Dr. João Couto que entende que se deve contar à criança o motivo da mutilação, nunca faltando à verdade.

O assunto mereceu ainda mais largo debate.

Quarta sessão de trabalhos (manhã do dia 23)

Presidiu o Dr. Manuel Gonçalves.

Ainda na sequência do assunto tratado na véspera, foi apresentada uma imagem da Virgem, na qual se tinha feito não só um trabalho de consolidação, mas também uma tentativa de reconstituição dos cabelos.

O assunto foi largamente debatido pelos Srs. Dr. João Couto, Abel de Moura, Maria José de Mendonça e Cardoso Pinto.

A opinião geral fói de que na imagem só se devia fazer a consolidação, mostrando-se todos contrários ao restauro acabado. Em peças fundamentais nunca se deve fazer a reconstituição nem introduzir elementos esculpidos.

Para a Sra. D. Maria José de Mendonça não há razão para falar em peças fundamentais ou secundárias, pois todas são fundamentais. «A reconstituição só deve ser feita na medida em que a consolidação o exija». Para a oradora, tudo quanto se acrescenta à obra de arte só serve para a desvirtuar.

Debateu-se em seguida o problema de saber o que é o verdadeiro Oonservador.

Para o Sr. Oardoso Pinto há um sexto sentido no Oonservador e para o Dr. João Couto são problemas fundamentais o dos mercados e o das falsificações. Apresentou vários casos de compras de obras de arte com insucesso para as pessoas que as efectuaram.

Após isso, o Sr. Dr. Russell Cortez justificou o restauro das imagens. Disse que na Alemanha conhecia muitos casos de reconstituições consideradas legítimas, ao que a Sra. D. Maria Emilia Amaral Teixeira disse supor que o que sucedia era exactamente o contrário. Nunca tinha visto nos Museus peças reconstituídas.

O Dr. Russell Cortez apresentou um novo problema; qual era o das imagens falsas.

Mostrou uma, construída em Viseu, e apresentada no mercado.

Este caso suscitou largo debate acerca das identificações e das avaliações das obras de arte, ficando assente, de harmonia com o parecer do Dr. Manuel de Figueiredo que o pessoal do Museu nunca devia dar avaliações nem identificações.

Levantado pelo Sr. Oardoso Pinto, discutiu-se o problema das cotações das obras de arte nos mercados.

Passou-se em seguida ao tema da tarde ou seja o Fundo de Apetrechamento dos Museus.

O Dr. João Couto perguntou o que devia entender-se por este tema.

O Dr. Russell Cortez explicou tratar-se de material não de colecção, mas funcional.

À maneira do que se faz para as Universidades e para os Liceus o Estado devia inscrever no orçamento um crédito para esse apetrechamento (móveis de utilização permanente).

O Dr. João Couto disse que o caso não se colocava para o Museu de Lisboa, suficientemente dotado, mas apresentava muita gravidade para os Museus da província.

O Dr. Russell Cortez referiu-se aos problemas que certos casos apresentam, por exemplo o dos exaustores de humidade, que congelam durante os frios invernosos de Viseu.

O Dr. A. Gonçalves acentuou também as dificuldades que resultam para os Museus Regionais da deficiência de certas verbas orçamentais.

Suscitou-se nesta altura um longo debate.

O Sr. Cardoso Pinto perguntou qual a maneira de obter estes fundos de apetrechamento, e concordou em que era necessário fazer qualquer coisa.

Dado o assunto por discutido, apreciaram-se a seguir outros problemas relacionados com os Museus.

Assim o Sr. Cardoso Pinto levantou o problema do preço das entradas nos Museus.

Segundo o orador o preço actual está desactualizado e propõe que seja aumentado. Comparou o que se passa em Portugal com a situação nos Museus estrangeiros e citou alguns números.

Discordaram da sugestão do Director do Museu dos Coches, os Directores dos Museus de Viseu, do Porto e de Lisboa que perante a fraca visita com os preços que se cobram no momento que decorre, entendem que no caso de se mexer no assunto, os Museus ficariam vazios.

Outro assunto que foi debatido, disse respeito aos guardas dos Museus, aos Museus sem guardas e ao horário do pessoal.

Suscitou-se um debate em que tomaram parte o Dr. Manuel de Figueiredo, o Dr. A. Gonçalves e Baptista de Lima. Sugeriu-se a vantagem da entrada gratuita nos Museus ser aos sábados e aos domingos e não às quintas e domingos como sucede actualmente.

A Sra. D. Maria José de Mendonça propôs que se estudasse a maneira de criar a Associação do Pessoal dos Museus Portugueses e que se intensificassem as relações com o ICOM, dando mais actividade à Comissão portuguesa criada junto daquela organização internacional.

O problema foi discutido tomando parte no debate o Dr. Baptista de Lima e o Dr. Manuel de Figueiredo.

Terminados os trabalhos da reunião, como atrás se disse, entrou na sala o Dr. Rodrigo de Melo Franco de Andrade.

Sessão de encerramento

Assumindo a presidência, congratulei-me pela presença do Dr. Rodrigo de Melo Franco de Andrade ao qual manifestei os agradecimentos da assembleia, pela honra que lhe fora dada, vindo a Viseu tomar parte no termo dos seus trabalhos.

A seguir debateu-se o local onde os conservadores, se forem autorizados, deverão realizar a próxima reunião.

Tomaram a palavras vários conservadores e assentou-se que ela deveria ter lugar em Lisboa, no Museu de Arte Antiga.

Uma comissão composta pelo Dr. Russell Cortez e Dr. António Gonçalves foi encarregada de redigir as conclusões da reunião. Em seguida, o Sr. Cardoso Pinto propôs votos de agradecimento ao Sr. Dr. João de Almeida pelas palavras de ânimo e sugestões que trouxe à reunião, à Fundação Gulbenkian e seu presidente pela sua iniciativa e presença e por último ao Dr. Russell Cortez pela dedicação e energia dispendidas na organização dos trabalhos. O Dr. Russell Cortez propôs também que estes votos fossem extensivos às entidades locais que, de qualquer modo, contribuiram para a facilidade e brilho dos trabalhos, especialmente os Srs. Governador Civil, Presidente da Câmara e Federação dos Vinicultores, e Fundação C. Gulbenkian.

O Dr. João Couto para terminar usou da palavra e disse que o Dr. Russell Cortez devia estar contente com o manifesto sucesso da sua iniciativa.

As finalidades da reunião foram cumpridas e os temas propostos foram abordados com a maior elevação e sabedoria.

Do primeiro tema resultaram algumas sugestões muito úteis.

Foi muito importante tudo quanto se disse relativamente ao papel dos Directores e dos Conservadores dos Museus.

O terceiro tema, implicando a solução de assuntos dependentes da competência de outras entidades, permitirá, se possível, alcançar alguns resultados mais efectivos.

Foi fundamentalmente importante o estudo dos problemas relacionados com as obras de arte existentes nos Museus da província, bem como os problemas do seu restauro.

Certos trabalhos foram discutidos com tanta largueza que obrigou a prolongar as discussões pelas sessões seguintes.

Quanto ao último assunto do temário, ele orador, concorda com o estabelecimento do fundo de apetrechamento nas condições em que foi proposto.

À margem dos objectos apresentados à discussão, outros temas de grande alcance foram trazidos à assembleia.

O Dr. João Couto renovou os seus agradecimentos aos colegas que presidiram às reuniões; disse que o acolhimento que todos receberam em Viseu foi encantador e que se haviam passado dois dias de magnífica camaradagem e proveito.

Disse que tendo sido por ele adiantada a ideia destas reuniões em Bragança no ano de 1941 só agora, devido à iniciativa do Dr. Russell Cortez, a primeira teve lugar em Viseu.

Lembrou a 5ª reunião do restauro que teve lugar em Lisboa no ano de 1952, na qual também muito se trabalhou, resultando dela grandes beneficios. No seu termo, o saudoso Paul Fierens, dizendo sentidas palavras de agradecimento a todos os que nela haviam trabalhado, terminou com um «gigantesco obrigado». Assim também o Dr. João Couto terminou a sua oração, agradecendo a todos a colaboração prestada.

Durante a reunião, e por obra das forças vivas da cidade, tiveram lugar várias manifestações.

A Comissão Local de Turismo ofereceu na Estalagem Viriato um almoço no qual compareceram várias autoridades de Viseu.

Presidi em nome de V. Exa., e às palavras que foram proferidas pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viseu, respondi agradecendo a homenagem que nos fora prestada, enaltecendo as belezas de Viseu e do seu termo, pedindo que se empregassem todos os esforços para conservar intacta a parte velha da cidade e dizendo palavras de louvor ao Director do Museu de Grão Vasco.

Também este Senhor nos ofereceu um almoço no qual toma¬ram parte, além dos componentes da reunião, o Dr. Rodrigo de Melo Franco de Andrade e o arquitecto Paulo Barreto.

Na tarde do dia 23, partimos para o Caramulo onde, acompanhados pelo Dr. João Lacerda, visitamos o Museu, facto que constituiu uma excelente lição de museografia.

Fomos obsequiados com uma merenda oferecida pela Junta de Turismo do Caramulo. Assim terminou esta manifestação de arte e de boa camaradagem museol6gica.

Aproveitei os dois dias imediatos para visitar alguns Museus Portugueses nos quais colhi as melhores impressões e proveitosos ensinamentos.

Desta forma estive no Museu Soares dos Reis, no Museu de Aveiro, no Museu da Guerra Peninsular, sito no Buçaco, no Museu de Machado de Castro, no qual me impressionaram as galerias romanas abertas no subsolo, nas ruínas de Conimbriga e no novo Museu ali em construção, bem como no Museu de Leiria.

Em quase todos falei com os Directores ou com os Conservadores.

Apresento a V. Ex.a os meus cumprimentos.

João Couto.
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