quinta-feira, setembro 01, 2005

Viseu monumental e artístico (2/11)

por Alexandre Lucena e Vale
2ª edição, 1969
Junta Distrital de Viseu

I - Antelóquio

ANTIQUA ET NOBILlSSIMA, anterior à própria Nacionalidade, Viseu não é apenas a página de história que documentam as suas velhas pedras.

Como solar antigo que, sem desestimar a nobreza dos tectos apainelados e dos móveis de pau-santo, se vai afazendo às exigências e comodidades modernas, assim Viseu alia admiràvelmente em sua fisionomia os dois aspectos: passado e presente, tradição e progresso.

Neste feliz enlace reside, afinal, o segredo de todo o seu interesse.

Alcandorada nas eminências da cidade, ergue-se a Sé, a revelar a origem do burgo episcopal antiquíssimo, documentado já no século VI, nas actas do concílio de Lugo, e,a dominar ainda hoje, simbolicamente, todo o aglomerado urbano que dela desce em redor.

Nessa arca granítica, todo um quarteirão da cidade, que é a Sé e seus anexos, guarda Viseu como em cofre de preço as suas mais belas e venerandas formosuras de arte; lavores de pedra, primores de maçanaria, delicadezas de imaginária, curiosidades de torêutica, sumptuosidades de estofo, requintes de ourivesaria, excelências de iluminura, preciosidades de diplomática, magnificências de pincel...

Em volta, num primeiro abraço, cinge-a a cidade velha, o burgo primitivo de ruelas estreitas e sombrias, pequenas praças de lajedo à romana, prédios modestos de varandas corridas, sobranceiras à rua, construções quinhentistas de janelas lavradas, com mainéis encordoados e tímpanos de laçaria, nobres solares com portões armoriados e fachada aristocrática de janelas de avental, panos de muralha com seus arcos medievais sob a imagem do respectivo patrono em seu oviel de séculos.

A seguir, mais de largo, estende-se a cidade nova, casario novo, arruamentos novos, bairros novos - uns, comerciais, conjunto de instalações modernas, com escarparates de bom gosto e mercadoria de preço a rivalizar com Porto e Lisboa; outros, residenciais, com casas modernas «à antiga portuguesa», de patins alpendrados e beirais acolhedores, ou de terraços espaçosos e largas coberturas de cimento, revestidos de verdes e de rosas.

Mais fora, emoldura a cidade a graça arrabaldina dos campos circunjacentes: retalhos verdejantes de lameiro, manchas doiradas de terras centeeiras, pinceladas verde-negras de pinheiral bravio, todo um embrechado de cores mestas e doces, polvilhado de casais dispersos que branquejam até o azul ferrete da serrania distante, sob o sol bendito e criador da Beira!

Imagens antigas e imagens novas, estampas de arte e natureza - de tudo aqui há e tudo é Viseu!


Viseu vista de nascente, do começo da estrada para o Satão. À esquerda o vasto edifício do Hospital da Misericórdia, à direita o conjunto da Sé com grande parte da cidade antiga.


Sob o coral do crepúsculo, o perfil da cidade alta, visto da entrada principal do Estádio Municipal do Fontelo.


A cidade antiga na visão actual de fotografia aérea.


Um aspecto moderno de Viseu: começo da Avenida Salazar que é a saída da cidade para a estrada de Coimbra, também linha de rumo dos aviões, vindos do sul, para o aeródromo Gonçalves Lobato no alto da Serra da Muna que se vê no último plano.


Das ameias da Sé que olham a nascente, donde o vigia medieval espiava as avançadas dos invasores de leste, vê-se hoje, povoada, a vertente da Via Sacra, que domina, no alto, o Asilo da Viscondessa de S. Caetano e ocupa em grande parte a quinta do Seminário, cujo edifício, antigo convento dos Néris, se avista à direita com a Igreja do Carmo.
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