sábado, junho 24, 2006

Imagens de Viseu (10/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

IX - A CASA DE CIMO DE VILA




A CASA DE CIMO DE VILA OU dos Ernestos, como era conhecida desde o princípio do séc. XIX, é um magnífico exemplar dos palácios portugueses do séc. XVIII.

Foi mandada edificar por José Teixeira de Carvalho, fidalgo da casa real e cavaleiro professo da Ordem de Cristo, no local da casa por êle adquirida, assim como outros bens, entre os quais a quinta de Marzovelos e o grande praso do Fôjo, à família Costa Homem Souto Maior, uma das mais nobres famílias do Norte.

Companheiro e amigo do Barão de Qintela, associou-se com êle no negócio dos tabacos, no qual ganharam uma fortuna. Honrou-se também com a amizade do Marquês de Pombal.

José Teixeira de Carvalho teve um filho, José Ernesto, o qual, por sua vez, casando com uma senhora da família ilustre de Laborim, teve por herdeiro e sucessor seu filho António Ernesto: daí o ser conhecida a casa, depois da morte de seu avô, pela Casa dos Ernestos.

António Ernesto Teixeira de Carvalho, casou com D. Maria Tomásia da Rocha Velho, do Pôrto, tendo uma única filha, a ilustre senhora Condessa de Prime, D. Maria da Glória Teixeira de Carvalho Sampaio da Rocha Velho, que foi a 1ª Baroneza de Prime, por ter casado em primeiras núpcias com o Barão de Prime (1), razão pela qual a casa dos Ernestos pertence, por herança, à família Prime e nela habitaram os Condes de Prime.

***

A casa é formada por dois corpos laterais ligados entre si, tendo cada um dêsses corpos sua porta de elegante guarnição de granito, encimadas, ambas elas, pelo brazão dos Teixeiras de Carvalho (2).

As janelas teem também elegantes guarnições de granito com aventais.

As paredes do átrio e da escadaria são revestidas de azulejos recortados e policromos, do mesmo estilo e porventura da mesma mão dos da igreja dos Terceiros.

Os paineis centrais, pintados a roxo, representam diferentes episódios de caçadas ao urso, ao javali, às lebres e ao veado.

Não são famosos êsses desenhos, ao contrário da parte ornamental da cercadura que os envolve, que é excelente.

A capela, que fica no extremo Sul da casa, é interiormente revestida também de azulejos a tôda a altura das paredes.

A sua fachada é duma grande elegância de linhas, destacando-se a guarnição de granito que liga a porta com a janela. A porta tem lindas ferragens de metal amarelo nas suas almofadas e, na guarnição superior do portal, lê-se a seguinte inscriçao (3):

ESTA CAP. M. F. M.EL TEIXRA
DE CARVª COM MIÇA DE DOMINGOS E
DIAS SANTOS PARA O Q APUTECOU BENS
- ANO DE 1748

No tempo em que a Casa de Cimo de Vila era habitada pelos Condes de Prime, foi ali fidalgamente recebida a raínha Senhora D. Amélia, nas três ocasiões em que veio fazer sua cura de águas a S. Pedro do Sul, em 1895, 1896 e 1898.


(1) Dêste 1.° matrimónio houve apenas um filho, Luís de Loureiro, mais tarde Visconde de Loureiro, que foi o maior elegante do seu tempo, na sociedade de Viseu. Tendo casado com a sr." D. Antónia da Silva Mendes, filha de João da Silva Mendes, teve dois filhos: Luís de Loureiro (já falecido) e a sr. & D. Eugénia de Loureiro Relvas.
Do 2.° matrimónio, com José Porfírio Rebelo, depois Conde de Prime, teve 4 filhos - Fernando, José, Luís e António (mais tarde, visconde de Marzovelos).

(2) Marcel Dieulafoy, reproduz, no seu livro « Espagne et Portugal », êste palácio português, como exemplar de arquitectura civil em que se nota uma singular predilecção pelos ornatos salientes das cantarias, predominando os arcos côncavos e convexos.

(3) Manuel Teixeira de Carvalho era irmão de José Teixeira de Carvalho. Exerceu o cargo de Tesoureiro-Mór da Sé. Sendo solteiro, e tendo-lhe pertencido. por vontade de seu irmão, a casa de Marzovelos, determinou no seu testamento, em sinal de reconhecimento, que esta casa fôsse para o primeiro filho de seu irmão José.
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