sábado, junho 24, 2006

Imagens de Viseu (15/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

XIV - O ORGÃO DA CATEDRAL




O órgão que actualmente se vê na Catedral de Viseu, entre as duas primeiras colunas da nave do lado esquerdo, entrando, é uma excelente obra de talha que, no entanto, muito prejudica a beleza arquitectónica da Sé, obstruindo quási completamente o espaço compreendido entre as duas colunas e as suas respectivas ogivas.

Foi mandado construir pelo bispo D. Francisco Monteiro Pereira de Azevedo, que governou o bispado desde 1792 a 1819, datando, portanto, a sua construção dos princípios do século XIX. OS seus motivos decorativos também assim o atestam, estando a sua parte superior rematada com o brasão do bondoso bispo. Foi seu construtor Luís António dos Santos, a quem chamavam o engenheiro, por ser muito habilidoso, sendo marceneiro e organista. Era natural de S. Cosmado, povoação dos arredores de Mangualde.

Anteriormente a êste órgão havia um outro que não estava no mesmo sítio, como diz Pinho Leal, mas sim encostado à parede lateral esquerda, como, antes de feita a deslocação dos azulejos para os claustros, se reconhecia fàcilmente pela falta que dêles havia no lugar da parede que foi ocupada pela parte inferior do órgão, que era em forma de taça.

A data exacta da construção dêsse órgão não é fácil dizê-la, à falta de conhecimento de qualquer
documento que a êle se refira. O facto de Pinho Leal atribuir a êsse órgão substituído o século XVI, para época da sua construção, o que não deve ser, levou a um lamentável êrro quem redigiu, na parte referente a Viseu, o «Manual do viajante em Portugal» - pois nêste livro se diz que o « magnífico órgão» que se admira na Sé de Viseu, é do século XVI!

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O bispo Pereira de Azevedo pela sua bondade e pelas suas virtudes gosava da maior simpatia e popularidade em Viseu. E tanto que, numa situação anormal, em 1808, em que se deu um motim, de que resultou serem prêsos o general da província e o juiz de fora, o povo dirigindo-se ao paço episcopal entregou ao venerando prelado o govêrno interino da cidade.

Jaz na Sé, no arco cruzeiro, ao fundo da capela-mór. Três sepulturas aí se vêem: do lado do evangelho, a do bispo D. Francisco Mendo Trigôso (1770-1782), e ao centro, a do bispo D. Manuel de Saldanha, falecido em 26 de Dezembro de 1671, como ainda se vê na inscrição tumular, e aonde, também, segundo Pinho Leal, repousa o virtuoso e caritativo prelado Pereira de Azevedo.
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