sábado, junho 24, 2006

Imagens de Viseu (17/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

XVI - O SÊLO DO BISPO D. DIOGO ORTIZ DE VILHEGAS




ENTRE os objectos encorporados no «Museu de Grão-Vasco» e dos que maior interesse podem ter para a história da Catedral de Viseu, figura o sêlo ou sinête do bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas, êsse prelado ilustríssimo do princípio do século XVI, que tem o seu nome ligado à arrojada e elegantíssima abóboda dos nós, como o tinha à frontaria rica e resplandecente de ornatos que um prolongado temporal derrubou em 1635, e que os homens dessa época - dêsse decadente período de dominação castelhana - não souberam reconstruir, inspirando-se nos lindos e floridos motivos ogivais, reintegrando-a no seu primitivo estilo.

Foi o padre António José Pereira em sua vida, quis ter a gentileza de fazer doação ao Museu, do precioso sinête que havia pertencido a seu pai.

É curioso relatar o que se tem escrito àcêrca dêste sinête, e a interpretação que se tem dado aos caracteres nêle gravados.

De forma circular, tem ao centro o escudo com as armas do bispo D. Diogo Ortiz - que sendo matemático, geómetra e astrólogo - adoptou para o seu brasão um astro circundado de pequenos paralelipípedos, além da mitra que encima o escudete. Junto da orla circular vêem-se os seguintes caracteres, em maiúsculas:

SGLVDIDACICPS–
SEOPI VISENSIS

Êste sinête que foi visto por Francisco Manuel Correia e que o reproduziu na sua Memoria sôbre os bispos de Viseu, mal interpretado por êle, levou-o a concluir que se tratava dum hipotético bispo D. Soludidário ou Seludidário, cujo episcopado se teria exercido entre os dos bispos D. João Gomes de Abreu e D. Fernando Gonçalves de Miranda, que governaram o bispado de Viseu nos fins do século XV.

Porém, as razões aduzidas por Francisco Manuel Correia, caiem pela base, estando muito longe de argumentar bem, como conclui Pinho Leal.

D. Soludidário ou Seludidário, foi bispo que nunca existiu.

Em primeiro lugar, o brasão do sinête é, sem a menor dúvida, o do bispo D. Diogo, perfeitamente igual àqueles que rematam grande número de fechos da abóbada da Sé.

Basta confrontá-los.

Em segundo lugar são os próprios caracteres, atrás reproduzidos, a confirmá-lo.

Assim, segundo a interpretação dada primeiramente pelo dr. Maximiano Aragão, e que é absolutamente exacta, as quatro primeiras letras (SGLV), intercalando-lhe dois ii e acrescentando-lhe um M, dão a palavra SIGILVM (sinal, marca, sêlo); as seis letras seguintes DIDACI (de Diogo); as imediatas CPSEOPI, em que o gravador trocou inadvertidamente o c pelo E, e com o acrescente dum I, dá EPISCOPI, (bispo) e finalmente VISENSIS (de Viseu).

Desta maneira, que é a verdadeira, podemos pôr abertamente de parte a existência do bispo D. Soludidálio - que o Padre Leonardo de Sousa também inclue na sua lista de bispos duvidosos, visto que a única justificação para a sua existência se fundava na errada interpretação dada ao sinête, que, sem a menor dúvida, e, afortunadamente para a história da Catedral de Viseu, pertenceu ao eminentíssimo bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas.
Site Meter