sábado, junho 17, 2006

Imagens de Viseu (3/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

II - JANELA MANUELINA DA RUA DA CADEIA (1)




Esta janela, a mais notável das poucas que, pertencentes ao seu estilo, existem ainda em Viseu, é geminada, tendo ao alto o brasão dos Gomes de Abreu, por ter pertencido ao Cónego Pedro Gomes de Abreu, sepultado na antiga capela do Calvário, junto do claustro da Sé, vendo-se na face anterior do seu túmulo o mesmo brasão.

No campo do escudo esquartelado estão figurados, no 1º e 4º quartel, os símbolos heráldicos representativos dos Abreus (côtos d'asas) e no 2º e 3º os dos Soares de Albergaria (uma cruz flordelizada rodeada de cinco quinas).

É tradicional dizer-se que nesta casa nasceu D. Duarte.

É mais natural, porém, que assim não tivesse acontecido. Digo porquê: Ao tempo do nascimento do 2º filho de D. Filipa de Lencastre (1391), que depois foi o rei D. Duarte, ainda existia o antigo paço que era no local junto da Sé, aonde hoje são os claustros, e que só foi demolido para a edificação dêstes (1531-34) no reinado de D. João III (1521-1557), a pedido do bispo D. Miguel da Silva que governou o bispado de 1527 a 1547, seu contemporâneo e que era afilhado de seu pai D. Manuel.

Existindo portanto o paço, tudo leva a crer que a raínha, (que ao tempo estava com seu pai, o Duque de Lencastre, nas Caldas de Alafões, e que ao aproximar-se a ocasião do parto foi resolvido virem para Viseu, juntando-se-lhes aqui o Mestre de Aviz e D. Nuno) se instalasse com o seu séquito na habitação real.

É convicção nossa que tal versão se fundou no êrro cometido, e que veio de geração em geração, até nós, de se ter chamado ao escudo dos Gomes de Abreu o escudo de Aviz !

E isto por causa da cruz que nem mesmo é a de Aviz !

Oliveira Berardo caiu nesse deslise, pois também assim lhe chama no seu manuscrito « Noticia ou memoria descritiva da cidade de Viseu ».

Depois, outros, embora com menores responsabilidades se lhe seguiram, dando curso a tal êrro.
Existia o mesmo brasão no cunhal da capela profanada e há anos demolida, na travessa de S. Domingos e, ainda, nas ruínas de uma casa na Aguieira, por isso que a quinta de Santo Estêvam, que foi pertença dos Gomes de Abreu, se estendia até áquele lugar.

Ambos estes brasões, um de granito e outro de pedra de Ançã, foram oferecidos pelos seus respectivos proprietários (2) ao museu de Grão Vasco, aonde se encontram actualmente.

(1) Hoje é Rua de D. Duarte.

(2) Srs. Arnaldo de Menezes e António Martins.
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