sábado, junho 17, 2006

Imagens de Viseu (5/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

IV - O ARCO OU PORTA DOS CAVALEIROS




Antes da demolição do pitoresco trecho do antigo convento das freiras de S. Bento, de que hoje, infelizmente, só resta a igreja com os seus admiráveis azulejos dos séc. XVII e XVIII, o trôço da rua, no prolongamento da rua Direita, que ia desde o arco do convento (1) até ao arco da antiga muralha, chamava-se rua dos Cavaleiros.

Daí a denominação da Porta; sendo certo que é mais conhecida, vulgarmente, pela simples designação de Arco, e tanto que a rua que se segue, para a parte exterior, em continuação da dos Cavaleiros, se chama ainda hoje rua do Arco.

Assim como a casa em que uma parte do Arco se apoia, e que pertenceu à família Albuquerque do Amaral Cardoso, tomou o nome de Casa do Arco, sendo até os seus primitivos donos conhecidos em todo o país pelos Albuquerques do Arco ou os Fídalgos do Arco (2).

É curioso notar que, ao contrário do que se deu com o Arco dos Melos, que tomou o nome dos donos da casa contígua ao arco, aqui é o arco que dá o nome à casa e até aos seus proprietários.

A Casa do Arco tornou-se célebre pelas festas que ali se deram, e pela vida faustosa que os seus donos faziam.

Tem na frontaria, por cima da porta principal, o brazão dos Albuquerques do Amaral Cardoso, bem como no cunhal que dá para a rua do Arco.

Sem ser, arquitectonicamente, digna de menção especial, é contudo elegante, nas suas linhas sóbrias, como aliás o são, em geral, todos os palacetes da sua época - séc. XVIII.

Nela se hospedaram o rei D. Luís e a raínha D. Maria Pia na única vez que visitaram Viseu, em Agôsto de 1882, por ocasião da inauguração do caminho de ferro da Beira Alta (3).

Tem o Arco na sua porta exterior, sobrepujan¬do-o, uma única inscrição em latim e idêntica à que existe na Porta do Soar, datada de 1646, e man¬dada colocar por D. João IV.

Superiormente, no vértice do ângulo da cortina da antiga muralha, está um nicho em forma de baldaquino, com colunas (séc. XVIII) que abriga uma imagem de Nossa Senhora da Graça, de pedra, e que deve datar dos fins do séc. XVI.

Em baixo vê-se um arco de volta inteira, aberto na espessura da muralha, no qual ultimamente se anichava um ferrador, e que devia ter sido, no seu início, uma fonte de mergulho.

Exteriormente é êste um dos trechos mais interessantes do velho burgo medieval, que todos os artistas vindos a Viseu muito apreciam, e que tem sido reproduzido por alguns, entre êles pelo notável aguarelista Alberto de Sousa e pelo ilustrador inglês W. Backer, de reputação mundial.


(1) Êste arco, idêntico a um que ainda existe hoje ligando o largo António José Pereira com a Rua Escura, dava ligação por baixo de parte do edifício do Convento, da rua Direita para o Largo das Freiras, que hoje, com outros terrenos, constitue o largo Mousinho de Albuquerque.

(2) Muita gente supõe que os personagens Tadeu de Albuquerque e sua filha Tereza, do livro de Camilo, «Amor de Perdição», teem qualquer parentesco com a família dos Albuquerques do Arco.
Nada mais erróneo. Nem desta nem doutra eram parentes, pela simples razão de que nunca existiram, segundo a opinião dos ilustres camilianistas, Dr. Sérgio de Castro e Alberto Pimentel. Vidê: Camilo Castelo Branco - por Sérgio de Castro e Notas sôbre o Amor de Perdição - por Alberto Pimentel.

(3) É curioso lembrar que António de Albuquerque do Amaral Cardoso, então senhor da Casa, ofereceu bizarramente o seu palácio para alojamento das pessoas reais, mas, como autêntico miguelista, saíu dêle enquanto D. Luís e D. Maria Pia o habitaram.
Fez as honras da casa seu irmão Fernando. oficial de cavalaria. há anos falecido.
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