domingo, junho 18, 2006

Imagens de Viseu (8/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

VII - O ANTIGO CONVENTO DE SANTO ANTONIO




NOS princípios do séc. XVII, o bispo D. João Manuel, que governou o bispado de Viseu desde 1610 a 1625, bem como as autoridades civis, interessaram-se por que os frades capuchos do Convento de Orgens, que tinham pelas suas virtudes uma grande simpatia entre a população da cidade, fôssem transferidos do seu pitoresco mosteiro para Viseu.

Em 1613 essa transferência era concedida; mas, porque não tivessem aonde se instalar na cidade, e aínda pelo desgôsto logo manifestado pelo povo de Orgens e seus vizinhos, por tal mudança, o certo é que só passados 20 anos, em 1633, é que (segundo Leonardo de Sousa) os primeiros frades fundaram em Viseu a sua primeira casa, tendo, para isso, com o produto de esmolas, adquirido a quinta e casas de S. Miguel de Fetal, propriedades que então pertenciam a David Alvares, pedreiro e mestre d' obras. Por quaisquer circunstâncias que surgiram, como fôsse a deficiência da instalação e inconvenientes do local, os frades de Orgens, já sob a invocação de S:o António, não estavam satisfeitos em S. Miguel.

E, como em 1634 falecesse o chantre e cónego da Sé de Viseu, Gaspar de Campos Abreu (1), morador e dono da quinta de Maçorim, que a deixou por legítima a uma sua filha, pensaram os frades de Orgens em adquirir essa propriedade que se estendia até ao Rossio, actual Praça da República, que então se chamava o Terreiro de Maçorim.

E, se bem o pensaram, melhor o fizeram; pois a compraram com o produto da venda da quinta de S. Miguel e de mais esmolas que angariaram para êsse fim, tendo tomado posse dela, depois de cumpridas tôdas as formalidades, um ano depois.

Mandaram logo construir a igreja, por sinal duma grande pobresa de estilo, mais pobre aínda que a de Orgens, mas nesta certamente inspirada pela flagrante semelhança da entrada, disposição do pequeno claustro, etc.

Assim se conservou o Convento (sem contudo deixar de haver religiosos em Orgens) até ao séc. XVIII, época em que se transformou em casa de noviciado dos frades capuchos franciscanos.
Em 1834, extintas as ordens religiosas, foi profanado e adaptado a quartel do regimento de infantaria. 14. Como quartel foi sempre, é, e será um pardieiro sem nenhuma - uma só que seja ! - das condições necessárias ao fim para que destinaram o velho e pobre convento.

***

NOTA: - A direita da gravura vê-se a Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco. Depois da Catedral é, dentro da sua época (séc. XVIII), a mais elegante e artística igreja de Viseu.


(1) No Museu de Viseu existe um cálice de prata dourada com esmaltes e pedras encastoadas que foi mandado fazer por este chantre e cônego. Tem o seu brasão em esmalte na base e a inscrição: « Gaspar de Campos Avreu, chantre e conego na Sé de Viseu o mandou fazer. Ano de 1629 »
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