domingo, junho 18, 2006

Imagens de Viseu (9/20)

por F. de Almeida Moreira, 1937

VIII - CASA DO MIRADOURO




DAS poucas edificações do séc. XVI que aínda existem em Viseu, nesta ânsia de bota-abaixo e de substituIção por construções incaracterísticas e arrepiantes, é esta, sem dúvida, a mais notável e aquela que, a-pesar-das transformações porque naturalmente tem passado através dos tempos, mais conserva o seu carácter primitivo.
Miradouro se chamava, até o fim do séc. XVI, o terreiro que hoje tem o nome de Largo António José Pereira, e que na época intermédia, depois de concluído o edifício do Colégio, se chamou Largo de Traz do Colégio.

Apropriado era o nome, pela linda vista que daquele logradoiro se disfrutava na época em que o burgo se reduzia a pouco mais do que à parte limitada pela cintura da muralha. E então, aí por volta de 1520, terminada em 1513, como é sabido, a abóbada da Catedral, da iniciativa do bispo Diogo Ortiz, um seu sobrinho, Fernando Ortiz de Vilhegas, que foi chantre da Sé de Viseu e abade de Castelões, teve o bom gôsto de mandar construir, no extremo noroeste do Miradouro, a casa a que nos estam os referindo.

Atesta-o o brazão dos Ortiz, que se vê a meio do entablamento de ordem jónica que guarnece a varanda geminada da frontaria.

Na ala direita da casa, duas janelas também geminadas, de volta inteira e com ornatos de estilo gótico, já do último período, põem em maior destaque a falta de janelas iguais na outra ala. Mal se compreende aquela substituição, ou tardia adaptação na fachada do mesmo edifício!

A tôda a largura da frontaria corre um friso de modilhões no lugar da cornija, limitado por duas gárgulas nos ângulos dos cunhais; e, por cima da porta da entrada, de volta inteira, vê-se o brasão dos Melos que ali foi colocado, muito posteriormente, na época em que a casa foi adquirida por um cónego da Sé - a quem pela sua bela figura chamavam o Bonito - da família dos Pires Bandeiras da casa da Torre-Deita, que também usava o apelido Melo.

Ou porque a casa tivesse pertencido ao Morgado da Tôrre, ou porque tivesse uma tôrre na parte voltada para o poente, o certo é que esta casa também é conhecida pela Casa da Tôrre.

Devido à circunstância de uma filha do abade de Castelões, Fernando Ortiz de Vilhegas, ter casado com o senhor da Casa de Molelos, também a Casa do Miradouro, ou da Tôrre, foi pertença dos senhores de Molelos.
Dêles é que passou (por compra) para a família Pires Bandeira, pertencendo hoje à família Calheiros, por herança.
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