Padre Francisco de Moura Secco
I - 1834 Francisco de Moura Secco é natural da cidade de Lamego, freguesia de Almacave, em cuja igreja paroquial foi baptizado em 13 de Julho de 1834. Terá nascido cerca de 10 dias antes - prazo que nessa época normalmente decorria entre o parto e o primeiro sacramento católico. É filho natural de Francisco de Moura Secco e de Jerónima do Sacramento, neto paterno de Manuel de Moura e Almeida Secco e de Antónia Rosa da Silva Marejão e neto materno de João da Costa e de Helena Margarida - todos eles da freguesia de Almacave.
No Arquivo Distrital de Viseu já não existem os livros de registos de baptismo desta freguesia anteriores a 27 Set 1841. A informação foi recolhida nos arquivos da Diocese de Lamego.II Sobre os familiares mais próximos do Pe. Moura Secco - pais e irmãos - foi reunida até ao momento a informação que segue.
II - a O Pe, Francisco teve um irmão germano, mais velho 16 anos, a quem os pais deram o nome de Delfim de Moura Secco.Em certidão datada de 3 de Setembro de 1857 e destinada ao processo de habilitação para o sacerdócio do irmão Francisco, os serviços da diocese confirmam que Delfim foi baptizado em 28 de Setembro de 1818 na "Pia Baptismal da Freguesia de Almacave" e que foi considerado "habilitado para o estado eclesiástico, suas honras e previlégios" em 12 de Março de 1840. Tinha 22 anos.
O Pe. Delfim de Moura Secco foi pároco da freguesia de Rua durante 10 anos, de Agosto de 1845 até ao seu falecimento, em 14 de Junho de 1855, aos 37 anos. A seguir, o primeiro assento que assinou, o de um baptismo, e o assento do seu óbito.
Nota: a informação sobre o Pe. Delfim de Moura Secco será actualizada em breve.
II - b Francisco de Moura Secco teve também um meio-irmão, por parte da mãe, de nome António Gonçalves da Costa Pinto.
Também foi sacerdote. A informação consta do "Edital de património para a Igreja da freguesia de Rua a favor de Francisco de Moura Secco", datado de 23 de Julho de 1857, na qual se escreve que "sua mai Dona Jerónima do Sacramento lhe fez por escriptura pública" uma vinha que confronta "d'um lado com a tapada de seu irmão padre António Gonçalves da Costa Pinto e do outro com a estrada pública".
Nota: a informação sobre o Pe. António Gonçalves da Costa Pinto será actualizada em breve.
II - c Francisco de Moura Secco teve ainda um outro irmão, irmã ou meio-irmão, ou meia-itmã, aquele ou esta pela parte do pai.
Em 1899, no "Annuario da Academia Polyttechnica do Porto - Anno lectivo de 1898-1899" aparece como aluno matriculado um filho de "D. Jesuína Augusta de Moura Secco, natural de Lamego".
Não foi possível encontrar na freguesia de Almacave, nos anos de 1841 a 1865, o assento de baptismo de Jesuína. O mesmo nos anos de 1838 a 1867 na freguesia de Rua - onde Jerónima do Sacramento vivia pelo menos desde 1857 e onde viria a falecer em 1863.
Jesuína Augusta de Moura Secco nasceu em freguesia de Lamego que ainda não foi possível identificar.
II - d Sobre o pai dos padres Delfim de Moura Secco e Francisco de Moura Secco, também ele de nome Francisco de Moura Seco, apenas se sabe que era filho de Manuel de Almeida Secco e Antónia Rosa da Silva Marejão, da freguesia de Almacave.
Não é possível conhecer a data do seu nascimento. Terá ocorrido por volta de 1800, mas de Almacave, como se disse na nótula "I - 1834" não existem livros de registo de baptismos anteriores a 27 de Setembro de 1841.
Também se desconhece a data do falecimento. Desapareceram os livros de registo de óbitos desta freguesia das datas 18 Fev 1862 a 11 Jan 1860 e 01 Jan 1966 a 10 Set 1873. Nos livros ainda existentes do período 23 Fev 1837 a 30 Mar 1894, o assento de óbito não se encontra.
II - e A mãe dos padres Delfim, Francisco e António, Jerónima do Sacramento, é natural da freguesia de Alamacave. Nasceu entre 1798 e 1800. Passou a viver, em data anterior a 1857, no lugar de Vide, da freguesia de Rua, na altura pertencente ao concelho de Sernancelhe.
Faleceu em 10 de Dezembro de 1863, com a idade de "63 a 65 anos", "solteira" e "deixou filhos" - conforme o assento de óbito, que a seguir se divulga. Este documento foi assinado pelo seu filho Pe. Francisco de Moura Secco, na qualidade de pároco ou reitor da freguesia de Rua. Na banda lateral do documento, a defunta aparece com o apelido "Gonçalves", talvez do seu companheiro de vida na altura. No texto a mãe de Jerónima aparece como Helena Maria, mas em toda a documentação anterior consta como Helena Margarida. Não há forma de saber se é erro ou omissão: a senhora podia chamar-se Helena Maria Margarida ou Helena Margarida Maria.
III - 1851 Não há registo da data da entrada do jovem Francisco no seminário de Lamego. Terá sido entre 1851 e 1852, cinco ou seis anos antes de ser ordenado.
O documento pessoal mais antigo recolhido para a sua biografia é um poema por ele escrito em 24 de Janeiro de 1851. Tinha quase 17 anos de idade e com os versos Francisco de Moura Secco - candidato a seminarista, ou já no seu primeiro ano de seminário - homenageava D. Rosa Carolina Magalhães, falecida dois dias antes, a 22 de Janeiro, aos 35 anos. O poema seria publicado quatro meses depois, a 5 de Junho, no nº 23 do semanário "Miscellanea Poetica - Jornal de Poesias Ineditas":
O assento de óbito da homenageada é a única peça informativa que sobre ela existe. Não contém, como é natural, qualquer elemento que ajude a conhecer as razões da admiração e amizade que por ela nutria o jovem Francisco. Pelo descrito no assento, Rosa Carolina morreu "sem sacramentos, por impedimento de muitos dias".
IV - 1857 Em 1 de Setembro de 1857, aos 23 anos de idade, Francisco de Moura Seco foi considerado "examinado e aprovado para a Prima Tonsura, quatro graus de Ordens Menores e Subdiácono".
Quatro dias depois, em 5 de Setembro, D. José Moura Coutinho Bispo de Lamego, "Par do Reino do Conselho de Sua Magestade Fidelíssima", assinou a respectiva "Carta de sentença de habilitação".
No documento considera-se "o dito Francisco de Moura Secco habilitado para o estado Eclesiástico", "dispensando-lhe a irregularidade ex defectu natalium para poder receber Tonsura e Menores". A "irregularidade" era o facto de os pais não serem casados ou "unidos pelo sacramento do Matrimónio".
VI - 1859 No ano seguinte, por decreto publicado no "Diario do Governo" de 17 de Fevereiro, o Pe. Francisco foi nomeado presbítero da Igreja de S. Pelágio de Rua, então pertencente ao concelho de Sernancelhe, também do Bispado de Lamego. Como se disse acima, na nótula "II a", o irmão de Francisco Pe. Delfim de Moura Secco havia sido pároco da mesma freguesia durante 10 anos.
Rua era sede de concelho no início do séc. XIX com o nome de "Vila de Rua". Passou para o concelho de Caria até 1855, depois para o de Sernancelhe e a partir de 1896 para o de Moimenta da Beira onde se mantém. Em 2017 recuperou o nome antigo, "Vila da Rua", por Lei da Assembleia da República.
Nas imagens, "Vila da Rua" na primeira folha do livro de registo dos óbitos de 20 Mai 1825 a 21 Dez 1886 e na Lei nº 34/2017 de 2 de Junho.
(Página 171, código m0074, livro de óbitos 1825-05-20/1886-12-21, Freguesia de Rua, Moimenta da Beira.)
(Página não numerada, código m0194, livro de baptismos 1828-11-03/1859-12-30, Freguesia de Rua, Moimenta da Beira.)
IX - 1861 Na edição de 30 de Dezembro, o diário "O Comércio do Porto" publicou, sob o antetítulo "(Comunicado)", um artigo assinado "Moura Secco" titulado "Exéquias em honra de D. Pedro V". O monarca havia falecido no dia 12 de Novembro deste ano de 1861 e o texto que o jornal publicou pode ser o de oração nas exéquias realizadas no Porto. Seja ou não, é a única peça existente para conhecer um pouco do estilo oratório do autor.A má qualidade da digitalização quase impede a leitura, pelo que se optou por dactilografar o documento - com a ortografia com que foi impresso no jornal.
X - 1863 O jornal "O Comércio do Porto" de 7 de Abril noticiava que o Pe. Francisco Moura Secco pregou nas solenidades da semana santa em Lamego e "n'uma bella oração, e n'um assumpto tão esgotado mostrou mais uma vez o seu incontestavel talento".
XI - 1863 Num espectáculo de homenagem à actriz Emília das Neves realizado em Lamego a 19 de Julho, o Pe. Francisco de Moura Secco - então com 29 anos - foi um dos vates cujos poemas foram "recitados dos camarotes e lançados à plateia em profusão", conforme informava o correspondente local de "O Comércio do Porto" na edição de dia 23.
XII - 1863 Em 7 de Agosto deste ano, Francisco de Moura Secco publicou no semanário viseense "O Viriato" comentários sobre o espectáculo atrás referido. Esta edição de "O Viriato" já não existe, que se saiba, mas o texto do Pe. Francisco está quase que integralmente reproduzido num livro de 600 páginas publicado em 1875 com o título "Emilia das Neves - Documentos para a sua Biographia" e assinado por "Um dos seus admiradores".
XIII - 1864 Com 30 anos de idade e 6 de sacerdócio, Francisco de Moura Secco publicou em Lamego o romance "Angelo".
Na "Prefação" que antecede o "Prólogo" escreveu que o livro são "páginas avulsas do vigesimo primeiro anno de existencia, ellas recendem a esse perfume virginal da primavera da vida". Ignora-se, no entanto, se foi o seminarista vintaneiro que as escreveu (1854-1855 ?), ou se o sacerdote já trintão (? 1863-1864), algum tempo antes de a obra ser impressa.
Por razões não reveladas, o autor ofereceu-a "Ao Exmo. Senhor Visconde de Gouveia, Digno Par e Grande do Reino".
XIV - 1865 Por decreto de 13 de Março da Congregação do Index, o romance "Angelo" foi colocado na lista dos livros proibidos pela Igreja Católica. A informação sobre o decreto consta do "Index Librorum Prohibitorum 1600-1966" organizado por J. M. De Bujanda e publicado em 2002.
A seguir, publicam-se as capas das edições do "Index" de 1900 e 1901 e as referências ao "Angelo" que continham.
XVI - 1873 Em 5 de Abril o mesmo diário informava que o reverendo Moura Secco seria o orador, daí a uma semana, no sermão de Sexta Feira Santa na igreja dos Congregados, no Porto.
XVII - 1882 Francisco de Moura Secco foi um dos colaboradores dos jornais de Lamego "Beira e Douro" e "O Povo". A informação relativa ao "Beira Douro" consta dos tomos XV e XVIII do "Diccionario Bibliographico Portuguez" de Innocencio Francisco da Silva, continuado por Brito Aranha.
A informação sobre a colaboração em "O Povo" está na "Illustração Católica" de 17 de Outubro de 1914, no artigo da série "Figuras da Beira" sobre o lamecense visconde de Gomes Teixeira (1843-1890), escrito por José Agostinho.
Não foi possível, até ao momento, encontrar um exemplar de qualquer edição destes dois jornais, "Beira e Doiro" e "O Povo".
XVIII - 1888 No dia 27 de Dezembro, o Pe. Francisco de Moura Secco administrou o seu último baptismo. Morreria quatro dias depois.
Não se sabe se nos últimos dias de vida administrou outros sacramentos. Já não existem, nesta freguesia de Rua, os livros de registos - de casamentos desde Abril de 1847 e de óbitos desde Janeiro de 1887.
XIX - 1889 O Pe. Francisco Moura Secco faleceu no dia 1 de Janeiro, uma terça feira, na igreja paroquial de Almacave, durante o sermão que pregava nas festas do Santíssimo Sacramento. Segundo o assento de óbito, eram 11 horas da manhã e no local ainda foi sacramentado com a extrema-unção.
Faria 55 anos em Julho desse ano.
XX - 1889 O quinzenário de Lisboa "O Occidente", de 11 do mesmo mês, noticiava as circunstâncias do falecimento e fazia um elogio fúnebre.
XXI - 1915 Nas suas memórias - que titulou de "Tentativa etymologico-toponymica" - o antigo professor do seminário de Lamego Pedro Augusto Ferreira lembrou-se do seminarista Francisco de Moura Secco.
XXII - 1935 Na edição de 15 de Dezembro, o jornal "Correio da Manhã" recordava o autor de "Angelo" na rubrica "Curiosidades Literarias".
XXIII - 2025 A investigação sobre o Pe. Francisco de Moura Secco não terminou. Estas nótulas serão actualizadas sempre que forem encontradas novas informações.
J. M. Duarte Figueiredo